O Governo de Cabo Verde autorizou o reforço, em 50 mil contos, do Programa Extraordinário de Apoio Pontual — uma medida que visa apoiar estudantes universitários na regularização das dívidas para com as suas instituições.
Começou a corrida às legislativas de 2026! E, no Estado de Cabo Verde, a actuação do poder central em vésperas de eleições é sempre a mesma: a utilização desregrada dos recursos do Estado para construir as clientelas necessárias a mais uma vitória eleitoral.
Em 2016, após três mandatos e um conjunto de fracassos, o governo do PAICV encontrava-se esgotado. Para compensar a estagnação económica, a insegurança pública e a derrocada dos transportes — entre tantas outras promessas frustradas — o governo também apostou em esquemas de redistribuição que visavam arrancar mais uma vitória eleitoral num terreno previsivelmente hostil.
É este o resultado que o MpD procura hoje. E é neste quadro que devemos entender medidas de redistribuição como esta: como uma estratégia eleitoral de emergência, entre as muitas que certamente serão apresentadas, e que visam compensar o fracasso da governação em sectores-chave, como o emprego e a educação.
Na publicitação desta medida, o Governo frisa que o objectivo é facilitar a obtenção de diplomas eventualmente retidos por endividamento, para que os finalistas possam ingressar prontamente no mercado de trabalho.
Ora, tem sido notícia recorrente que o dito mercado de trabalho está cada vez mais restrito; e que há um verdadeiro êxodo da juventude cabo-verdiana, em busca de oportunidades fora do país, via emigração.
Pretender que a regularização de dívidas universitárias constitui uma mera formalidade no processo de obtenção de emprego é pura demagogia. Mas não deixa de alimentar as ilusões dos jovens que ainda apostam num emprego no país. E, naturalmente, poderá influenciar o seu sentido de voto — assim como o das suas famílias.
Os eleitores beneficiados por esta medida encontram-se nesta posição de dependência devido ao resultado cumulativo de décadas de governação deficiente.
Primeiro, porque, ao invés de fomentar um ensino universitário de qualidade e financeiramente comportável, os nossos sucessivos governos deixaram florescer um ensino de baixa qualidade, mas caríssimo, que leva os utentes a endividar-se com bastante frequência.
Por outro lado, os mesmos governos fracassaram redondamente em fazer florescer uma economia capaz de absorver satisfatoriamente a nossa mão-de-obra, particularmente a jovem.
Uma população tornada dependente — seja por desemprego, endividamento ou falta de alojamento — é uma população vulnerável a toda a sorte de medidas eleitoralistas.E este reforço do Programa Extraordinário de Apoio Pontual certamente será seguido de outros esquemas de redistribuição de cariz estritamente eleitoralista.
Resta saber se o MpD tem recursos suficientes para satisfazer as numerosas clientelas de que necessita para possibilitar uma vitória difícil em 2026.