Depois de três dias de tumultos, com vandalismo e pilhagens um pouco por toda a Luanda, a capital de Angola começou hoje a regressar à normalidade. Já se viram as pessoas na rua, os transportes públicos a funcionar minimamente.
Depois do caos, chegou a hora de lamber as feridas.
E, do meu ponto de vista, a principal ferida causada por estes três dias tem a ver com a confiança que ficou extraordinariamente abalada. E isto tem consequências económicas muito graves, seguramente.
A confiança é a mola motriz da economia.
Sem confiança não há economia. Sem confiança não há investimento. Sem investimento não há emprego. Sem emprego não há salários, não há consumo, não há bem-estar social.
E foi esta confiança que foi extraordinariamente abalada por estes três dias. E isto não podia vir em pior altura.
Angola tem uma população em forte crescimento. Mais de 45% da população de Angola tem menos de 14 anos. E o sector petrolífero, que era uma espécie de abono de família para Angola e para a economia angolana, está em declínio estrutural.
No plano social, nós temos praticamente dois em cada cinco angolanos que não têm emprego. 80% desses empregos são informais. Os preços não param de aumentar.
A inflação é da ordem dos 20%.
Para inverter esta situação, é preciso, naturalmente, investimento. E, sobretudo, investimento privado.
Ora bem, estes últimos acontecimentos vêm causar uma enorme desconfiança junto dos investidores. Acredito que nos próximos tempos, sobretudo até as eleições daqui a dois anos, em 2027, o investimento vai ser muito afetado. Dificilmente nós teremos novos investidores.
É provável que os investidores que existem, que já estão habituados ao país, que conhecem o país, invistam, mas mesmo assim menos do que aquilo que tinham previsto.
Mas nós não podemos contar com novos investimentos. Novos investidores dificilmente virão para cá devido à falta de confiança.
Portanto, este é o principal desafio do governo nos próximos tempos. É restaurar, na medida do possível, a confiança. E isso só pode ser feito através do diálogo com todas as forças vivas de Angola.
E é isso que nós, francamente, desejamos que possa acontecer nos próximos tempos.