Se pela consciência, se houvesse a consciência das coisas, aqueles que dirigem e tem dirigido o Estado, saberia que tudo a ser feito deve ser para servir o povo, o povo guineense. Este povo que, em todas as circunstâncias, é o único e legitimo dono do poder. É em seu nome que deve ser exercido todo e qualquer tipo de poder, em seu benefício e proveito.
Aqui, em outra ocasião, lembramos que o Estado guineense não foi fundado por nenhuma burguesia ou elite política, ele foi essencialmente produto de reivindicação do povo guineense, através da luta gloriosa e exemplar, sob liderança de Amílcar Cabral.
Um Estado fundado contra tudo quanto é forma de repressão- física, cultural, moral e psicológica, etc. Por exemplo, no dia 03/08/1959, o povo guineense, aqueles que trabalhavam na Cais de Pindjiguite, foram dura e selvaticamente reprimidos pela então autoridade colonial, foi o transbordar da situação, criou-se mais revolta ainda, abrumando assim a situação que estava insustentável.
A luta levada a cabo e conduzida pelos guineenses, levou a afirmação e fundação do Estado e fixação de uma Constituição, na qual ficou plasmada as normas e princípios que devem reger a vida social e política do Estado e o do povo guineense.
Ao se fixar uma Constituição com separação dos poderes, ao balizar as competências e limite de atuação dos poderes, por outras palavras, o povo guineense está a dizer que não reconhece a existência de Reis na sua sociedade, na sua terra. A partir dessa constatação, podemos concluir que ninguém pode ou tem o direito de presumir para si as competências e poderes. Mas, o que não se pode mesmo, é permitir que a situação denunciada no contexto colonial se possa voltar. Seria uma regressão- violência contra as mulheres pelo simples de serem mulheres, abuso de poder, aquilo que chamamos no crioulo da Guiné-Bissau “ronca força”, desaparecimento e tampouco o absolutismo de qualquer natureza ou espécie.
Desaparecimento física de 3 três crianças encontradas mortas sem explicação, assassinatos e desaparecimentos sem explicações, a saga dos espancamentos sumários, deixa muitas interrogações.
A sociedade guineense é tempo de se olhar para trás, de revisitar os termos e clausulas da independência. Os representantes do povo, aqueles que pretendem representar o povo da Guiné-Bissau devem estar em comunhão com os valores e princípios que fundaram o Estado guineense. É preciso, sempre que se fizer necessário, rever o fim último da luta de libertação nacional.
Pois, hoje, a luz de tudo que está a acontecer e tem acontecido, podemos dizer- Não foi o que combinamos.