A velocidade dos acontecimentos na GUINÉ-BISSAU supera a nossa capacidade de processar, maturar e digerir os eventos/acontecimentos. Por exemplo, apenas nesta semana, em que ficaríamos?: agressão brutal e cobarde ao Advogado e ex-Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos Luís Vaz Martins ou, hostilidade de que foi vitima, mais uma vez, Rádio Capital e mais outras estações emissoras, proibidas de fazerem uma cobertura jornalística no Supremo Tribunal de Justiça, ou, se preferirmos, a lista definitiva do Supremo Tribunal que decidiu deixar de fora Plataforma política Pai Terra Ranka para às Legislativas e a Candidatura de Domingos Simões Pereira para as presidenciais. Os argumentos e razões abundam-se por aí, e para todos os gostos.
Numa sociedade normal, cada um destes assuntos dava e poderia servir de elemento de um debate durante meses, para esmiuçar e esgotar as visões, opiniões e perceções. Acontece que, no atual contexto da Guiné-Bissau, tudo acontece numa jactância e velocidade que não nos permite processar praticamente nada. Aliás, como afirmei no passado, aqui os absurdos se concorrem, em função disso, acabamos por deixar coisas absurdas de lado, para focar nas coisas MAIS absurdas.
Bem, perante os três eventos que se sucederam no mesmo espaço curto de tempo, qual seria o mais absurdo?
- Expulsão das Rádios,
- Eliminação de Plataforma Pai Terra Ranka e Domingos Simões Pereira ou,
- Agressão desumana e vergonhosa de Dr. Luís Vaz Martins
Bem, permita-me, antes, recorrer ao Amílcar Cabral, nos seus argumentos que justificava a independência e ao exato momento do seu assassinato, na presença da sua esposa, quando queriam amarrá-lo, ele recusou categoricamente, dizendo que a luta era para que ninguém viesse, no futuro, ser amarrado. Portanto, a ele, ninguém podia amarrar.
Eu costumo dizer que a nossa independência deveria servir-nos de maior e principal fonte de inspiração do nosso compromisso para com os Direitos Humanos e a vida humana. Por isso, sempre que estas coisas feias e vergonhosas acontecem, agressões que deveriam nos envergonhar a todos, passa como se de nada tratasse. Sempre fico a pensar: Cabral deveria a estar a dar voltas e reviravoltas no seu tumulo em Conacri.
Cada vez que um de nós, por nós mesmos é agredido, estamos a trair à independência, estamos a trair Amílcar Cabral. Agressão a Luís Vaz Martins, é agressão ao Estado, ao Direito, a Democracia, é uma ameaça a sociedade livre, a essência da nossa convivência humana-Liberdade, nomeadamente, a liberdade de opinião.
Luís Vaz Martins foi submetido a sevícias por grupo de sempre: “Fortemente armado não identificado”. Este grupo que há décadas o Estado não consegue contornar.
Mas, podemos questionar, após esse mais um episódio sumário, o que isso mudará ou não, o que resta? O que não se viu, de género, nestes últimos anos? Pode parecer irónico, mas chegamos a ponto em que já se pode falar em espancamento per capita.
Um absurdo! Autêntico absurdo!!!
A esse ponto a que sociedade guineense chegou, um povo que fez uma luta exemplar e diferenciada, apenas tenho uma palavra para descrever: LAMENTÁVEL