Durante o processo que conduziu a independência da Guiné-Bissau, no seu discurso de Dar es Salam, Cabral deixou claro de que, não obstante o recurso a meios militares para a conquista da independência, a luta é em si, é fundamentalmente um ato político. Um ato político que se vê e nota no seu discurso, no seu argumento e nas atitudes e comportamentos que moldaram todo o processo que conduziu a luta. Cabral elaborou um modo político de se olhar para colonização, definiu-a politicamente, teorizando a luta armada como um fato cultural e factor de cultura. Soube sempre manter o Primado da Política sobre as coisas: o problema da alimentação, de agricultura, de justiça, de ambiente, da igualdade entre os homens, do desenvolvimento, etc, deve merecer sempre uma abordagem política e uma postura igual.
Hoje, por razões diversas, Guiné-Bissau encontra-se numa turbulência política, caraterizada por uma classe política inábil, incapaz, corrupta, sem amor a pátria, em suma, gente que não gosta da política. Mas, vivem da política…
Como resolver este problema? Que métodos são necessários? Que intelligentsia são necessárias? Parece que está difícil. Os tempos são outros, os ensinamentos de Cabral parecem de nada ter servido.
Hoje, para se ser político, na Guiné, para se participar dela, basta ser escandaloso/ignorante: infelizmente a política está ausente, a Guiné-Bissau tem uma classe política que não gosta da política…falam de tudo, menos da política…Não há critério, aliás, sobre a política, não é obrigado saber nada. O critério é ser ignorante. Muito ignorante. Quanto mais ignorante melhor. Esta é a realidade.
Por isso, como já disse, fala-se de tudo, menos da política. Infelizmente.
60% da população com menos de 25 anos, o diálogo deveria ser o progresso, formação, emprego, oportunidades, tecnologia, sobre o futuro. Mas, nem por isso, o debate é pobre e não tem nada a ver com os problemas estruturais do país.
Guiné-Bissau:
- Que futuro?
- O que fazer hoje?
É preciso e será preciso muita competência, trabalho, comprometimento e zelo para com o Estado e povo, para tirar o povo guineense da situação letárgica em que se encontra. Esta não é e nunca será tarefa de nenhuma divindade, ou Deus para o resolver, terá que ser mesmo os guineenses a resolver, aqueles que são competentes e comprometidos com o Estado. DEUS é para todos, os guineenses têm que usar a cabeça, pelo menos uma vez nestas andanças, pois isto está mal. Está muito mal. Podemos chamar do que quisermos, da política, isto não tem nada.