Ao longo desta semana, o ministro da defesa Cristóvão Chume lamentou a existência de uma cobertura pessimista dos meios de comunicação social acerca das actividades dos insurgentes, considerando que está a afectar os investimentos na província. Curiosamente, na mesma semana, a TotalEnergies anunciou que iria levantar a decisão de force majeur, tomada em Abril de 2021 aquando do ataque a Palma. Tal significa que, não obstante as notícias pessimistas da comunicação social, a TotalEnergies irá reiniciar a construção de um projecto de liquefacção de gás em Afungi, num projecto orçamentado em mais de 20 mil milhões de dólares.
Na verdade, os grandes investidores como a TotalEnergies e a ExxonMobil, os principais promotores dos grandes projectos de gás, detêm diversos consultores de segurança com experiência internacional, sendo por isso pouco sensíveis às manchetes dos jornais. Por outro lado, os indivíduos que fogem das aldeias não o fazem em resultado das notícias da comunicação social, mas em virtude de ataques da insurgência, que posteriormente alimentam os media. Na verdade, os media apenas reportam aquilo que é largamente difundido através das redes sociais, por parte de populações que geralmente não dispõem de qualquer informação acerca do governo acerca do curso da guerra. As rádios comunitárias controladas pelo governo raramente reportam acerca do conflito. Não obstante a ansiedade das populações, cada vez mais sitiadas pela insurgência, entre 2017 e 2020, altura em que foi destruída por um ataque, a rádio comunitária de Mocímboa da Praia nunca sequer deu uma notícia acerca do conflito.
O governo nunca fez um esforço de explicar o curso da guerra, as estratégias da insurgência ou como é que as forças armadas de Moçambique respondem no terreno. Não obstante grande parte das lideranças da insurgência serem locais e conhecidas pela população, não obstante a intensa troca de comunicação com os aldeões, inclusivamente gravada em vídeos que circulam pelo whatsapp, durante muitos anos o governo repetiu que “não sabemos quem eles são, nem sabemos o que eles querem, nem como comunicar”.
Ao mesmo tempo que o governo moçambicano se mantém pouco simpático com jornalistas independentes do poder governamental, evitando a realização de briefings regulares sobre o curso do conflito, o Estado islâmico divulga regularmente cada ataque que realiza nas diversass aldeias, geralmente com rigor factual e em termos geográficos e de número de vítimas. Muitos analistas passaram a considerar mais credível a informação do Estado islâmico do que a adoptada pelo Governo de Moçambique. Que continua a usar a estratégia de não comunicar.