Nos últimos anos, várias são as evidências que nos dão conta de que, infelizmente, o continente africano parece estar em crise nos seus vários sistemas de democracia. E, no seio da comunidade dos países africanos de língua portuguesa, a situação é cada vez mais dramática e preocupante, já que os sistemas políticos instalados no pós-independência e as subsequentes adaptações mostram-se obsoletos e incapazes de responder às transformações sociais a que vimos assistindo.
Infelizmente, e até que se prove o contrário, o conceito de democracia liberal parece não se enquadrar no modus vivendi em África. Razão pela qual, no caso dos países que integram a CPLP, o modo como se governa e se tomam decisões é manifestamente contrário ao que se espera de uma boa governação, centrada nas pessoas e em responder às necessidades de todos.
A luta quase fratricida pelo poder e, com ele, o controlo e a posse ou o acesso privilegiado à gestão dos recursos naturais coloca a céu aberto as inconsistências, incongruências e contradições das principais forças políticas que governam os países africanos de expressão portuguesa. Um facto que, felizmente, não tem passado despercebido entre os jovens, a população maioritária em África — esses mesmos jovens que hoje olham com desconfiança os partidos, as lideranças africanas e as principais organizações internacionais com responsabilidade e missão no fortalecimento da democracia e do desenvolvimento socioeconómico das nações africanas.
Hoje, com muita pena, dificilmente se reconhece autoridade e legitimidade aos poderes constituídos nos nossos países, fruto dos sucessivos casos comprovados de manipulação das instituições do Estado com objetivos e fins estritamente políticos e no interesse exclusivo de grupos, em detrimento de ações para resolver problemas que afetam e condenam à pobreza extrema milhares de cidadãos.
Lamentavelmente, o recente e vergonhoso episódio do alegado golpe de Estado na Guiné-Bissau só veio expor, aos olhos dos mais distraídos, o advento de um novo maquiavelismo, aperfeiçoado com doses extremas de demagogia, hipocrisia, manipulação e exploração do homem pelo homem.
É por isso que considero, salvo o devido respeito, completamente equivocadas as recentes declarações do Presidente da República de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, sugerindo a “realização de uma cimeira extraordinária da CPLP”.
Na verdade, acredito que o PR deveria questionar aos seus pares sobre onde esteve a CPLP nos últimos seis anos e, eventualmente, procurar saber se a organização cumpre verdadeiramente algum dos seus desígnios.