No próximo dia 25 de Junho Moçambique celebra 50 anos de independência. O país formou diversos governos, um parlamento e passou a decidir sobre os seus destinos. Mas a independência não interrompeu a brutalidade do Estado sobre a população, repetindo-se um modelo político centralizado a partir de Maputo e imposto às vastas populações do país. Com apoios externos, mas explorando contradições internas, cerca de metade dos últimos 50 anos foram passados em guerra. A corrupção generalizou-se. E a justiça torna-se cada vez mais fraca para os fortes e forte para os fracos.
Em termos económicos assistiu-se ao encerramento de plantações agrícolas e projectos agro-industriais. A agricultura continua a ser a principal actividade da população moçambicana, na maioria dos casos sem qualquer tipo de tecnologia. A estrutura fundiária continua a assentar na pequena propriedade e cerca de 98% dos camponeses cultiva em média entre um a dois hectares. O aumento da produção agrícola, faz-se à custa do alargamento da área cultivada, em resultado do aumento populacional, com fortes consequências sobre a desflorestação e o ambiente. A produtividade do milho continua em cerca de uma tonelada por hectare, equivalente à que se verificava na década de 1960, com consequências sobre a segurança alimentar. O crescimento da população urbana é acompanhado pela desindustrialização, pela informalização e precarização do emprego.
Em termos sociais, verificou-se um alargamento generalizado do acesso à educação e uma expansão da rede de saúde. O grande problema está na qualidade. No ensino público, as turmas ultrapassam com frequência os 100 alunos, que estudam sem carteiras ou livros escolares, perante professores despreparados, mal pagos e desmotivados. Nas escolas públicas, grande parte das crianças que terminam a 4º classe não sabem escrever o próprio nome. Nos centros urbanos floresce um ensino privado onde estudam os filhos das classes médias, em claro contraste com as restantes, reproduzindo-se cidadanias desiguais. A escola pública afirma-se como uma versão pós-colonial do ensino rudimentar para os indígenas (hoje compostos pelos filhos de aldeões e de trabalhadores informais urbanos), com a agravante que hoje nem aprendem a ler, escrever e contar. As classes médias urbanas, aquelas que teriam maior capacidade de influenciar políticas em defesa do ensino público, estão conformadas com a situação.
O país intensificou um modelo económico extractivista, direccionado para a exportação de commodities para os mercados externos, com pouco benefício para as populações locais. Cresce a consciência que o país é rico em recursos naturais, mas que estes não beneficiam as populações, o que constitui um desafio para a unidade nacional. Dentro de 15 anos a população aumentará dos actuais 33 milhões para 60 milhões. Mesmo que se consiga baixar a pobreza para 40% estaremos a falar de 24 milhões de pobres, analfabetos ou desnutridos, facilmente manipuláveis por grupos populistas e violentos. Como se já não bastasse, o país está na rota de ciclones tropicais, que aumentam de frequência e intensidade com as actuais mudanças climáticas. Os próximos 50 anos serão bem mais difíceis que os anteriores. E se continuarmos a empurrar os probemas com a barriga, dentro de 50 anos nem teremos um país para celebrar.