Moçambique está de luto, pelas mortes escusadas de mais de 200 pessoas às mãos da polícia ou em incidentes relacionados com manifestações.
Numa declaração recente, o presidente da Ordem dos Advogados de Moçambique, Carlos Martins, criticou a posição assumida pelo governo, afirmando, e cito, “A morte de nossos concidadãos, o sofrimento das famílias moçambicanas e as que acolhemos, a miséria de uma franja muito significativa da nossa população e a destruição de infraestruturas sociais públicas e privadas relevantes, desafiam a nossa consciência”, nestes dias em que a esperança parece não ter qualquer futuro. E acrescentou: “Quando se deixa de proteger a Democracia, o Estado e a Constituição, passa a valer tudo, porque já não existem valores para serem respeitados, passando a existir um punhado de nada, onde nada cresce, floresce e se desenvolve”.
Sobre todos nós, moçambicanos e moçambicanas, recai a responsabilidade de abrir um novo ciclo político, um ciclo que nos obrigue a uma leitura dos problemas que nos afetam, passo fundamental para abrir caminho a um diálogo profundo, que garanta liberdade para todos. Este processo de (re)aprendizagem cletiva de quem somos e do que queremos, dos nossos valores, e objetivos, é fundamental para garantir justiça social, democracia, e paz de todos.
A tensão politica pós-eleitoral, associada à perda e credibilidade das instituições, parece estar na origem a onda de violência que sacudiu vários locais do país. No caso de Maputo (cidade e província), nos bairros a fúria dos manifestantes levou ao saqueio de lojas de alimentos e outro tipo e comércio, queima de fabricas, e destruição de infraestruturas públicas e privadas; como resultado, assistamos à reemergência de comissões de vizinhos, que, através
de redes sociais, se auto-organizam e vigiam pela madrugada as ruas de Maputo, tentando dar segurança a quem fica em casa, num ambiente marcado por forte tensão.
E mias, a destruição de parte importante da cintura fabril em Maputo vai estar na origem de ondas de despedimento. Estarão as autoridades preparadas, por exemplo, para pagar as indemnizações? O que fazer?
Vários são os analistas políticos que insistem na urgência de um diálogo entre Daniel Chapo, o candidato da Frelimo que foi declarado vencedor das eleições presidenciais pelo Conselho Constitucional, e Venâncio Mondlane, o candidato da oposição. Venâncio Mondlane, através das suas lives no Facebook, ao longo da semana passada, apelou aos seus apoiantes para criarem o “caos” caso o Conselho Constitucional aprovasse a vitória da Frelimo. Mas quando o caos incluía pilhagens e incêndios, Mondlane recuou rapidamente e pediu para as pessoas não atacarem propriedades privadas. Posteriormente, de novo através do Facebook, Venâncio acusou a Frelimo de permitir as pilhagens e os incêndios, ao não enviar forças de defesa e segurança. Será que a Frelimo está, de facto, a usar o medo para desmanchar os protestos? Um facto é obvio: os dois lados estão a estimular o caos e a aumentar a tensão politica. Estarão as pessoas comuns suficientemente conscientes da urgência da unidade nacional para pressionar os seus líderes ao diálogo? E esse diálogo a dois, é urgente. E um dos principais pontos da agenda deste diálogo deve ser negociar a diminuição da violência em Moçambique, como apaziguar a atual tensão social.
Estes são os desafios no inicio de 2025.
Boas entradas a todos e todas e que o ano novo nos traga o diálogo e promessa efetiva da tão almejada paz.