Segundo um estudo da Afrosondagem, de 2024, 76% dos jovens e 75% dos trabalhadores cabo-verdianos desejam emigrar. O motivo principal é o de sempre: o desemprego estrutural que caracteriza a economia Cabo-verdiana.
A emigração é uma componente central da narrativa cabo-verdiana. O território é minúsculo, e a economia agrária era insustentável, afundando periodicamente em fomes violentas. A instrução e a emigração representavam os únicos caminhos possíveis para a segurança e a mobilidade social.
A partir do século XVIII, os emigrantes Cabo-verdianos partiram para uma diversidade de destinos: Estados Unidos, Brasil, Argentina, Senegal, Guiné Bissau e Costa do Marfim; mais tarde para Portugal, França, Itália e Países Baixos.
Hoje, o motor da emigração já não é a fome que assolou o arquipélago até meados do século XX. A razão da Independência era por fim às fomes, e conseguimos.
Mesmo assim, apesar dos protestos dos nossos demagogos, a nossa economia continua caracterizada pela estagnação e pelo desemprego; e os Cabo-verdianos em busca de mobilidade continuam a olhar para além mar.
Em 2016, sob o lema de “Cabo Verde Tem Solução”, o agora Primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva prometeu aos Cabo-verdianos criar 45 000 empregos; e debelar de vez o problema do desemprego em Cabo Verde. Falhou.
A recessão da procura turística causada pela pandemia foi curta; a recuperação foi rápida; e o BCV aponta para um crescimento da atividade económica de 6,1% para 2024.
Ou seja, os números são ótimos, particularmente quando comparados à estagnação do último mandato do PAICV. Mas isso não garante que a distribuição da riqueza gerada seja justa; e o descontentamento do público é notório.
Neste ponto, é preciso lembrar que o MpD perdeu as eleições de 2001- imediatamente após ter registado um crescimento do PIB acima dos 10%. Uma derrota eleitoral logo após um crescimento tão dramático indica claramente que o público não foi beneficiado pela riqueza gerada.
O MpD e o Governo não se cansam de defender o seu desempenho, alegando que a insatisfação com a economia não passa de uma intriga maliciosa, urdida pela oposição. Mas já em 2022, o Primeiro-ministro foi ridicularizado por apelar à não-emigração.
De facto, a explosão de aspirantes a emigrantes que vemos no presente é preocupante; é indicativa da falta de confiança que o cidadão Cabo-verdiano tem no seu país – para além de uma condenação implícita da atual governação económica.
Mas a incapacidade de estruturar uma economia que dê satisfação aos trabalhadores nacionais é uma constante dos sucessivos governos de Cabo Verde; e significa que, tal como no passado, os cabo-verdianos continuarão a recorrer em massa à emigração.