Os angolanos estão a ser fustigados por uma série de aumentos de preços de bens e serviços cujos preços são fixados pelo governo.
Só para termos uma ideia, nos últimos dois, três meses, o gasóleo aumentou por duas vezes, a primeira a 122% e a segunda a 25%, isto é, nos últimos dois ou três meses o gasóleo triplicou de preço. É certo que o preço ainda é baixo, 400 kwanzas o litro, o equivalente a cerca de 40 cêntimos de euro.
A energia aumentou 48%, a água subiu 30%, os transportes também aumentaram 50% e as propinas subiram 20%.
Tudo isto no espaço de dois ou três meses. A razão destes aumentos é porque, à excepção das propinas, os preços são altamente subsidiados, o preço do gasóleo, o preço da energia e água, o preço dos transportes públicos, enfim, com exceção das propinas, naturalmente não há subsídios para o ensino privado.
Eu até acho que estes aumentos se justificam do ponto de vista da racionalidade económica, porque Angola tem uma inflação muito elevada, os custos das empresas que prestam este tipo de serviços aumentam e, portanto, numa economia que se pretende de mercado, os preços acabam por ter que aumentar também.
O problema não é esse, o problema é que estão a aumentar estes preços a esta velocidade, mas os salários continuam na mesma, enfim, no ano passado houve aumentos na função pública, houve aumentos também no salário mínimo, mas, no essencial, os salários estão parados. Este é o problema, sim senhor, justifica-se, do ponto de vista do mercado, que os preços aumentem, mas tem que haver também um aumento dos salários e não é só por causa do nível de vida das pessoas, é por causa também de razões de natureza económica.
Não há economia com salários de miséria como são aqueles que são praticados em Angola.
Só para termos uma ideia, de acordo com contas que fiz, o poder de compra do salário mínimo angolano em 2024-2025 é metade daquele que existia em 2003-2004, isto é, um indivíduo com salário mínimo, que receba salário mínimo atualmente, compra metade das coisas que comprava com salário mínimo em 2003-2004. Este é que é o verdadeiro problema, o verdadeiro problema não é o aumento dos preços, repito, numa economia de mercado os preços oscilam normalmente para cima.
O problema é que não há o correspondente aumento de salários e, portanto, nós podemos estar a viver num barril de pólvora, que a todo momento a situação pode explodir porque as pessoas estão a ficar completamente asfixiadas com o aumento do custo de vida sem que os salários acompanhem minimamente este aumento do custo de vida.
Sábado já haverá uma manifestação, vamos ver como é que as coisas correm, mas provavelmente não vêm coisas boas porque, de facto, a população está completamente asfixiada com cada vez menos poder de compra.