O Presidente de Angola, João Lourenço, é o principal ausente da Cimeira China-África que começou ontem, quarta-feira, e se prolonga até amanhã, sexta-feira. Angola não está ausente, está a ser representada pelo ministro dos Relações Exteriores Tete António. João Lourenço foi convidado em Março durante uma visita oficial à China e terá aceitado. Segundo o jornal angolano Valor Económico, o Presidente angolano não só aceitou como terá confirmado a presença posteriormente.
O que quer que tenha acontecido a verdade é que João Lourenço não está na China. Trocou a Cimeira China África por uma viagem privada de alguns dias ao Dubai. Na ausência de explicações oficiais surgem as especulações sobre a ausência do Presidente angolano.
Angola é um dos principais parceiros africanos da China. Já não é o maior parceiro comercial, foi ultrapassado pela África do Sul, mas é o maior fornecedor africano de petróleo e sobretudo o maior devedor da China no Continente.
É precisamente aqui nas dívidas que reside o problema que é muito simples. Angola está atolada em dívidas: 60 por cento do Orçamento Geral do Estado angolano vai pagar o serviço da dívida, juros e amortizações, mais do que o Estado gasta em Educação e Saúde.
E a maior parte do serviço da dívida de Angola vai para a China.
Por isso Angola está a tentar por todos os meios renegociar a dívida com a China. Neste caso renegociar a não é pedir perdão da dívida nem juros mais baixos é simplesmente alargar os prazos de pagamento. Quando se tem mais tempo para pagar a dívida as prestações baixam e é isso que Angola quer para aliviar o sufoco financeiro em que se encontra.
Mas a verdade é que os chineses não têm aceitado, não querem sequer ouvir falar da renegociação da dívida. Não é só com João Lourenço, já foi assim com José Eduardo dos Santos.
Neste contexto, a ausência do Presidente angolano parece ser um recado para o seu homólogo Xi Jinping. À ausência de João Lourenço soma-se uma entrevista da ministra das Finanças de Angola, Vera Daves de Sousa, à agência de notícias Reuters em que diz mais ou menos o seguinte: se a China quiser que Angola compre produtos chineses, a China tem de aumentar os financiamentos.
Os recados de Luanda estão dados. Vamos ver se chegam e se são ouvidos em Pequim. Mas isso só o tempo dirá.