As nossas eleições autárquicas são duramente disputadas. Na maioria dos municípios, na ausência de uma verdadeira economia, a única riqueza disponível é o solo; e a distribuição e venda estratégica de terrenos municipais garante o financiamento das mais diversas ambições políticas.
Mas as autárquicas no fi nas deste ano têm um significado acrescido: poderão sinalizar uma mudança no status quo – ou a sua manutenção.
As autárquicas de 2020 alarmaram o MpD: perderam a Praia, o património fundiário mais valioso do país; perderam a maioria em São Vicente; perderam a Boa Vista e São Filipe; e perderam, pela primeira vez, São Domingos e o Tarrafal, dois bastiões do partido no interior da ilha de Santiago.
Este ano, para além da sua importância intrínseca, as autárquicas servirão também para a previsão do terreno legislativo em 2026
Em 2021, o MpD só conseguiu um segundo mandato devido à conjugação de três elementos:
1.A compra da consciência de eleitores empobrecidos pela pandemia;
2.O total fracasso da Oposição.
3.E a inexistência de uma terceira força capaz de galvanizar os eleitores.
Depois da derrota brutal em 2016, o PAICV simplesmente não se renovou; em 2021, com a recandidatura de Janira Almada, o partido fracassou previsivelmente uma segunda vez. Agora em 2024, muita coisa mudou no PAICV, particularmente a substituição de Janira Almada por Rui Semedo na presidência do partido.
Quando Semedo assumiu a presidência em finais de 2021, a percepção generalizada era que seria o caretaker de Almada até o próximo ciclo eleitoral; mas há muito que a relação entre os dois deixou de ser simbiótica.
Apesar de uma candidatura legislativa de Semedo ser improvável, está claro que a sua agenda já não coincide com um retorno de Almada.
Por último, temos o potencial disruptor da Câmara da Praia. Em 2020, Francisco Carvalho, um perfeito desconhecido, venceu inesperadamente na capital, devido à rejeição violenta da candidatura do MpD. Quatro anos depois, Carvalho já não é um desconhecido; muito pelo contrário, tornou-se o personagem mais popular do seu partido.
Foi como edil da capital que o actual primeiro ministro ascendeu à presidência do MpD; e foi catapultado para uma vitória legislativa em 2016. O PAICV deverá agendar um congresso para depois das autárquicas; se Carvalho vencer um segundo mandato – o que parece provável – estará numa posição privilegiada para disputar a liderança do PAICV; e, por inerência, as próximas legislativas.
Resumindo, a expectativa é que o desfecho das autárquicas de 2024, revele os atores e o terreno politico e das próximas legislativa.