O fantasma da anulação voltou a pairar sobre os acordos entre Angola e os Estados Unidos, celebrados durante a última parte do mandato de Joe Biden, nomeadamente durante a visita do antigo presidente norte-americano a Angola, no final de 2024. De resto, mesmo durante a visita, questionava-se a sua utilidade. Embora Biden ainda fosse presidente dos Estados Unidos do ponto de vista formal, os Estados Unidos já tinham um presidente eleito, que era Donald Trump, cujas ideias eram completamente diferentes das ideias de Joe Biden, em particular, no que se refere à ajuda ao desenvolvimento, à cooperação internacional, etc..

África em Destaque
20 fev, 2025, 10:22
Carlos Rosado – “Trump vai rasgar os acordo do Corredor do Lobito?

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20 fev, 2025, 10:22
Carlos Rosado – “Trump vai rasgar os acordo do Corredor do Lobito?
E quando Trump chegou ao poder, de alguma maneira, confirmou-se aquilo que se sabia, confirmaram-se as divergências em toda a linha. Aliás, uma das primeiras decisões de Trump foi justamente suspender a USAID, que é uma agência dos Estados Unidos dedicada ao apoio ao desenvolvimento.
Esse fantasma voltou a pairar por causa de uma notícia da agência de notícias Bloomberg, que dá justamente conta da incerteza que se vive em Washington relativamente ao futuro das relações entre os Estados Unidos e África. Dentro da notícia, falou-se, em particular, do corredor do Lobito.
Salvo melhor a opinião, tenho para mim que o corredor do Lobito insere-se dentro da estratégia de Trump.
Trump quer duas coisas, entre muitas, mas quer duas coisas relacionadas com o corredor do Lobito. Quer parar a influência chinesa, ou reduzir a influência chinesa, e quer, numa óptica empresarial, que aquilo que os Estados Unidos façam seja no interesse dos Estados Unidos, mesmo em termos financeiros, para os contribuintes americanos. Eu acho que o corredor do Lobito preenche estes dois requisitos.
Em primeiro lugar, o corredor do Lobito, digamos assim, trava a influência chinesa. De resto, os próprios chineses concorreram ao corredor do Lobito e perderam para um consórcio ocidental, composto pela Trafigura, Suíça, Mota-engil, portuguesa, e Vectoris, uma pequena empresa de logística belga.
O corredor do Lobito contribui, de facto, ou pode contribuir, para travar a influência chinesa em África.
Em segundo lugar, o financiamento do corredor do Lobito, é financiamento, mas não é financiamento ao Estado Angolano, é financiamento a uma empresa privada que tem a concessão do corredor do Lobito.
Ora bem, essa empresa, se tiver um empréstimo, vai reembolsar o empréstimo e com juros. E, portanto, é um empréstimo, é um financiamento que não tem custos para os contribuintes americanos. Portanto, duas coisas importantes para os Estados Unidos.
Mas, enfim, no fundo, no fundo, todos sabemos que, com Trump, a única certeza é a incerteza. E, por isso, a minha opinião vale o que vale, o melhor é esperar para ver.