Num comício realizado em Pemba no início da semana passada, Daniel Chapo voltou, mais uma vez, a colocar terroristas, naparamas e manifestantes no mesmo saco. Num tom ameaçador prometeu uma resposta musculada, afirmando que “vai jorrar sangue”. Chapo condena a violência dos manifestantes, mas ignora a brutalidade da polícia, assim como a respectiva responsabilidade no escalar da violência. Ignora os tiros disparados contra residências de líderes próximos de Mondlane, que desencadeiam violência popular. Ao invés de intervir como Presidente de todos os moçambicanos, incluindo daqueles que protestastam contra si, Chapo comporta-se como presidente da Frelimo.
Pelo meio destaca o desempenho da força local em Cabo Delgado, uma milícia armada com conotações etno-políticas específicas: maioritariamente makondes, cristãos e leais ao partido Frelimo. Elogiando o respectivo papel na defesa do território, Chapo sugere a extensão deste modelo para outras regiões do país. Perante a incapacidade do Estado para defender o território, equaciona-se a possibilidade de constituição de milícias leais ao partido no poder.
Já de regresso a Maputo reúne-se com os líderes da oposição parlamentar e anunciam a assinatura de um acordo de Paz para o próximo dia 5 de Março. Apostando numa solução meramente jurídica e excluindo uma saída política do conflito, insiste-se na exclusão do candidato que, por onde passa, demonstra ser o mais popular. Venâncio eleva a fasquia e coloca multidões a gritar “o medo acabou” ou Hi tava wela (vamos para cima deles). O acordo será assinado por líderes partidários que enfrentam uma crise de representatividade, pelo que dificilmente terá eficácia na diminuição das tensões. Os mais críticos ironizam: será um acordo entre os partidos sem povo.
Ao mesmo tempo que se fazem apelos à Paz, em várias zonas do país o governo está atento ao processo de recolha de assinaturas para a constituição do partido político de Venâncio Mondlane. O regime ignora o facto de o processo de radicalização de Venâncio ter decorrido, precisamente, do fechamento das oportunidades de participação institucional, no quadro de um Estado de Direito. Fiel ao slogan “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”, neste caso desorganizando o adversário, é o regime que empurra Venâncio para estratégias políticas assentes numa guerrilha popular urbana.
O país precisa de um acordo de paz no curto prazo e, nessa equação terá de estar Venâncio Mondlane. Mas esse diálogo de nada servirá se, no médio prazo, não se concretizar um conjunto de medidas que aliviem as dificuldades das populações. No longo prazo serão necessárias reformas profundas. Descentralização, reforço das instituições e despartidarização, reforma fiscal, diversificação da economia, terras e minas são assuntos largamente ausentes do discurso dos lideranças. Alheio aos temas centrais de Moçambique, Chapo continua a repetir um slogan vazio de ideias: “vamos trabalhar”.