No mês passado, entre os dias 19 e 20, o Centro de Estudos e Pesquisa sobre Mulher e Género (CEPEMG) realizou a sua primeira conferência subordinada ao tema: Tecer História: O papel da mulher no contexto de luta de libertação nacional e sua resinificação no período pós-independência.
A conferência visava destacar e celebrar o papel crucial das mulheres guineenses na luta pela independência da Guiné-Bissau, além de analisar como suas contribuições moldaram e continuam a influenciar as esferas económica, política e social do país no período pós-independência. O evento ofereceu uma visão detalhada das conquistas e desafios enfrentados pelas mulheres e buscou identificar estratégias para promover a igualdade de género e o empoderamento feminino em áreas como educação, economia e liderança.
Através de vários painéis com oradoras e oradores que têm trabalhado sobre temas diversas, a conferência permitiu que estudantes, jovens e público interessado pudesse assistir uma discussão, digamos, inovadora no que toca os debates e busca pela realização de uma Guiné-Bissau sonhada.
A questão da mulher, a problemática da mulher, não pode continuar a ser tratada como coisa menor, além das recomendações internacionais, o país perdeu a sua vocação progressista no que tem a ver com pautas. No atual cenário político guineense, o protagonismo político feminino é quase nulo ou inexistente. Situação que não deve ser explicada através de binóculos confusos, por isso, o Centro tem jogado e deve continuar a jogar papel importante no processo da emancipação da mulher e no seu acompanhamento devido em todos os níveis e etapas.
Ainda, no que tem a ver com debate sobre género na Guiné-Bissau, podemos dizer que temos três gerações:
A geração de luta, das mulheres que abraçaram o ideário da libertação nacional e do jugo colonial. Esta geração tinha a clareza e convicção do seu papel- independência em todos sentidos do termo. E assim fizeram. Podemos dizer que foi uma geração que saldou a sua divida com a História.
PÓS-INDEPENDENCIA- a geração pós-independência, já num outro contexto, podia ter feito mais, mas infelizmente não fez. Foram apanhadas pelo advento do excesso de protagonismo do pós-independência, da ganância e por vezes da corrupção. Ainda devemos lembrar que se trata de uma geração que não escolheu o debate do género como opção, podemos dizer que a temática de género foi ao encontro delas. Porque trata de uma nova agenda global e africana também. Por isso fizeram pouco, mas muito pouco para afirmação da mulher. Isto é, quando por vezes não são conviventes com desmonte do Estado.
A geração de Naentrem Sanca, digamos assim, já consegue imprimir outra dinâmica, mais engajada na emancipação da mulher através de produção de saber e sua difusão/partilha. Elevar a mulher à condição e estatuto de agente de transformação social ativa. Esta geração tem sim, insisto, outro desafio, desafio de, através de produção de saber, debates de ideias e tomada de partido sobre agenda estruturais e estruturantes com base nas ideias e políticas bem precisas.
O desafio da mulher na Guiné-Bissau continua a ser enorme.
Por isso, o centro tem um papel fundamental neste processo. Para que a luta não se resuma a um mero feminismo de tacho, contestatário e sem conteúdo.