O secretário-geral do MpD, partido com maioria parlamentar, acusou a Oposição de orquestrar uma operação digital, que “atenta contra a integridade moral dos adversários políticos”.
Em conferência de imprensa, Agostinho Lopes referiu-se a um e-mail, alegadamente produzido pelo núcleo de comunicação do PAICV, que descreve “métodos extremistas, subversivos e antidemocráticos para aceder ao poder em 2026”.
Lopes disse tratar-se de posicionamentos que configuram ataques à democracia cabo-verdiana, numa “estratégia sórdida” para se chegar ao poder, através de notícias falsas e violência verbal, transformadas em armas de combate político.
Resumindo, Lopes descreveu um documento no qual o PAICV promove a calúnia, a injúria e a difamação — documento que, se comprovada a sua origem, poderá configurar crime eleitoral.
Mas Lopes não ofereceu qualquer prova de origem, destino ou autoria. Muito pelo contrário: afirmou taxativamente que apresentar tais provas não é responsabilidade da sua organização.
Como não? Se uma entidade acredita que tem matéria para queixa contra um adversário, deve ter — no mínimo — fortes indícios materiais que sustentem tal alegação.
Mas quando o queixoso evade completamente as questões sobre as provas com que pretende sustentar as suas acusações, ele próprio lança dúvidas sobre a sua validade.
Aliás, interrogado sobre as medidas jurídicas que o partido pretende tomar — tal como uma queixa na Procuradoria ou na Comissão Eleitoral — Lopes gaguejou que não teria como determinar quem denunciar.
Ou seja, tudo parece indicar que o e-mail não passa de fake news: uma construção dos próprios queixosos; um conjunto de acusações infundadas, com o único objectivo de fortalecer as suas péssimas perspectivas eleitorais.
Contudo, nada aponta mais claramente para a falsidade do e-mail do que o próprio conteúdo. Agostinho Lopes queixa-se de que o texto motiva os militantes do PAICV a “atacar o MpD com comentários depreciativos, semeando desconfiança no uso do dinheiro público, com o objectivo de ofuscar as obras do Governo”.
Parece violento e antidemocrático; e, provavelmente, será ilegal. Mas as acções descritas constituem a linha de ataque mais básica da prática política nacional — o modo de operar de todos os partidos cabo-verdianos, em todas as campanhas legislativas e municipais, desde 1991.
Sendo assim, a questão é: por que razão haveria o PAICV de explicitar, num documento potencialmente danoso, aquilo que já está inscrito no DNA de todo militante partidário, de ambas as bancadas? Por que incriminar-se com um e-mail que apenas diz o que todos já fazem?
Desnecessário será dizer que a denúncia serviu apenas para cobrir o MpD e os seus porta-vozes de ridículo — para além de conceder ao PAICV espaço para representar o seu próprio teatro de indignação democrática.
Nós, enquanto cidadãos conscientes, não podemos embarcar nestas exibições. Devemos estar cientes de que, mesmo que a origem do e-mail venha a ser comprovada, ele não traz nada de novo — muito menos de chocante — para o terreno político cabo-verdiano.
A única novidade aqui é a incompetência do MpD na construção desta denúncia — o que só revela o amadorismo comunicacional que domina a presente direcção do partido.