Não tenhamos qualquer ilusão: só através de uma boa governação será possível transformar São Tomé e Príncipe (STP) numa nação verdadeiramente independente economicamente e capaz de proteger e promover os direitos fundamentais dos seus cidadãos.
Fruto de um longo e penoso processo de enfraquecimento das nossas instituições políticas, o papel do Estado tem sido comprometido. Sendo a única realidade capaz de organizar e construir uma sociedade livre, justa e solidária, na defesa dos direitos de todos os cidadãos, sem exceções, é com imenso desalento que assistimos à incapacidade do Estado são-tomense de pôr cobro à ocorrência de graves violações dos mais elementares direitos humanos.
Desde o fenômeno de violação e abuso sexual de menores ao abandono, maus-tratos e perseguição aos idosos, passando pelo aumento da criminalidade, potencializado pela facilidade de acesso a bebidas alcoólicas e substâncias psicoativas, o nosso país parece atravessar um dos períodos mais preocupantes e atípicos da sua existência como nação.
Nos últimos tempos, casos verdadeiramente dramáticos de abuso sexual de menores e violência têm se tornado cada vez mais recorrentes e divulgados, assim como o surgimento de uma delinquência juvenil inédita nas ilhas de nome santo. Isso deveria nos convocar, como sociedade, a refletir e questionar o que de fato aconteceu e como podemos, como comunidade, encontrar meios e recursos para inverter a sensação de insegurança e impunidade que parece dominar o quotidiano dos são-tomenses.
Como uma dificuldade nunca vem sozinha, no plano político, infelizmente, a nossa incapacidade de construir consensos alargados em torno dos assuntos de real interesse para o país fez com que a estabilidade política deixasse de ser sinônimo de boas condições para governar e tomar decisões que impactem positivamente a vida dos são-tomenses. Assim, abriu-se o caminho para sucessivas governações marcadas por muitas promessas e poucas realizações, um cenário que continua a fomentar manipulação, pobreza, violência e indiferença entre os homens e mulheres de São Tomé e Príncipe.
Contudo, somos são-tomenses, filhos do apóstolo do “ver para crer”. Continuamos a ter esperança e confiança, sim, a mesma confiança que depositamos no Estado e nas suas instituições, que nos fazem acolher as regras, leis e demais comandos de ordenamento social.
É urgente restaurar, sem autoritarismo, a Autoridade do Estado em São Tomé e Príncipe.
Gelson Baía, 23/01/2025