Moçambique está em luta de luto. Num país suspenso do anúncio dos resultados eleitorais, o dia 18 de outubro ficou marcado pelo assassinato de Elvino Dias e Paulo Gwambe, ambos envolvidos na campanha de Venâncio Mondlane e do partido PODEMOS. Elvino Dias é um conhecido advogado dos direitos humanos e o artista e professor Paulo Gwambe mandatário nacional do partido PODEMOS nas recentes eleições presidenciais e legislativas. De sublinhar que nestas eleições os dados preliminares sugerem que Venâncio Mondlane e o PODEMOS se tornaram uma força política incontornável na paisagem política Moçambicana.
Elvino Dias e Paulo Gwambe foram mortalmente baleados quando parqueavam a viatura em que seguiam numa das artérias de Maputo, uma ação que contribuiu para o aumento das tensões sobre os resultados desta votação tão disputada. Este assassinato está a gerar uma imensa onda de protestos, tendo advogados, associação de juízes, de magistrados do ministério público, artistas, escritores, vários sectores da sociedade civil, e de vários quadrantes políticos vindo a público manifestar o seu repúdio perante este ato bárbaro.
Porque próximos de Venâncio Mondlane, a causa deste cobarde ataque provavelmente tem motivações políticas. O advogado, Elvino Dias, estava a preparar-se para contestar em tribunal os resultados do candidato Venâncio Mondlane, cuja rápida ascensão em termos de popularidade o fez ultrapassar todos os outros candidatos da oposição no escrutínio de 9 de outubro. E aqui é importante referir que várias missões independentes de observação eleitoral disseram ter observado irregularidades no processo de votação a favor de Daniel Chapo, o candidato da Frelimo, que governa Moçambique desde a independência, há quase 50 anos.
Estas mortes, que se seguem a muitas outras, como o jornalista Carlos Cardoso, Jeremias Pondeca, membro do Conselho de Estado e da comissão de negociações de paz por parte da RENAMO, o jurista Gilles Cistac, o jornalista Paulo Machava, o juiz Dinis Silica, o economista Siba Siba Macuácua, Samora Machel, há quase quatro décadas, são atos repugnante que questionam a nossa humanidade e a capacidade de desenvolvermos diálogos em lugar de confrontos violente. Estas mortes representam um sério e grave atentado ao Estado de Direito e a Democracia e que a todos deve preocupar. Cabe-nos a todas e todos, de forma ordeira e com determinação, exigir das autoridades policiais uma investigação célere e que se obtenham resultados conducentes a um julgamento que puna exemplarmente os executores e mandantes deste crime.
Os moçambicanos e moçambicanas têm, por isso, todo o direito de, em uníssono, levantar a sua voz, para exprimir a sua mais profunda e legítima indignação, perante estes atos de terror, cuja finalidade é infundir medo, criando a ideia de que qualquer um de nós pode ser baleado na rua a qualquer momento, por criminosos quase nunca localizados e levados à justiça. A sociedade moçambicana não pode continuar a viver rodeada de assassinos inescrupulosos, providos de “licença” para matar quem “queiram”, encorajados pela garantia de impunidade.
Às famílias enlutadas, as minhas sinceras condolências, solidariedade e muita coragem. Para os amigos e companheiros políticos de Elvino Dias e Paulo Gwambe, é um momento duro da luta, mas é imperioso não desistir. Lutar, em luto, é um dever de memória para como Elvino Dias e Paulo Gwambe, para com os projetos políticos que defenderam e pelos quais sacrificaram as suas vidas. Temos direito à liberdade. Temos direito à vida, à dignidade, e a um governo que nos represente verdadeiramente. Como Cardoso defendia, é proibido por algemas nas palavras.