Resumo
Entre os dias 18/04 e 27/04 do mês a findar, cerca de 200 estudantes de Licenciatura da Universidade Jean Piaget de Guiné-Bissau realizaram um encontro académico na Ilha de Bubaque sob o lema: juventude e o futuro.
Estudantes de Economia, Medicina, Administração, Direito, Relações Internacionais e os outros cursos se reuniram para, a fundo, discutir os temas diversos e problematizar sobre questões que consideram fundamentais e indispensável para os seus aprendizados e futuro do país.
Objetivo
Com o objetivo de cumprir o outro pilar do ensino, neste caso a extensão, a excursão, cujo debates aconteceram na Missão Católica de Bubaque, teve vários oradores. Eu, na qualidade Padrinho dos Excursionistas, também fui desafiado a discutir o tema relacionado a “Políticas para retenção de cérebros no país”.
Bem, foi um debate interessante, animador, porque, na verdade, é notável que a Juventude gosta deste debate, respeito, contudo, é um debate que talvez menos importa neste momento quando se pensa nos problemas que o país tem e enfrenta. Nenhum país no mundo tem condições e capacidade de reter os quadros qualificados quando o país vive permanentemente no conflito e na instabilidade.
Mais, o caso da Guiné-Bissau é bem particular, o país viveu os 20 anos sob forte crise política e institucional, o desmonte do estado, das garantias, das liberdades, aprofundar da corrupção generalizada, narcotráfico, os governos eleitos democraticamente que não terminam os mandatos, etc, todos estes fatores acabam por constituir elementos fundamentais e fragilizantes no processo de estabilidade e possível desenvolvimento do país. Logo, daí que, nestas condições, os quadros nacionais com melhores qualificações, buscam sempre, não apenas a melhor remuneração, mas também a estabilidade no trabalho e um bom e melhor progresso na carreira.
Por vezes, o nacionalismo barato, permitam-me a expressão, nos leva aos debates desnecessários, por exemplo, no caso de Guiné-Bissau, se quisermos, podemos usar outro termo, não fuga do cérebro, podemos mesmos falar em EXPULSÃO DOS CEREBROS.
Explico: a degradação da política nacional, consequentemente, desmonte brutal das instituições estatais, fragilizando por completo o Estado no seu todo, permitiu que o mérito perca o espaço, que o talento não tenha o espaço, logo, instalou-se o clientelismo, parentesco, tribalismo, sectarismo, regionalismo e, para pior, promoção da ignorância ao mais alto nível.
Quando se consegue e se tem coragem de nomear uma pessoa que não sabe ler e escrever, Ministro da instituição cuja vocação é cumprir a lei, nada melhor espelha a banalização do Estado.
Ora bem, todos, praticamente todos os partidos que já governaram a Guiné-Bissau tiveram e praticam tais banalidades. Perante estes fatos que mencionei, a título de exemplos, é claro que os muitos quadros não estão dispostos a estas imbecilidades, vão procurar sempre outras saídas.
Logo, a juventude guineense, cuja 60% tem menos de 25 anos, não tem qualquer perspetiva de vida, basta ver a falta de oportunidade, da educação, de treinamentos, logo, eles, os jovens, são as primeiras e principais vítimas.
Concluo, discutir simplesmente fuga de cérebro, não passa de um mero reprodução dos debates dos outros, a Guiné-Bissau precisa tematizar os seus problemas e transformá-los em debates. Debates claro, concretos, precisos e, principalmente, reais.
A começar pela reposição da tradição, cultura e sentido do Estado. Guiné-Bissau precisa de muita coisa, mas, precisa, mais do que tudo, de voltar a ser um estado. Conseguido isto, talvez não venha a precisar falar de “fuga de cérebro”.