O Jovem guineense Rosário Nhaga publicou a sua segunda obra literária intitulada “Fala de Alma.
Coube-me a mim apresentar a obra. Há quase 4 semanas, encontrava-me na tabanka de Gambassi-Bafatá, onde durante a minha estada, o escritor Jorge Sena inspirou-me profundamente, entre aquela gente simples, modesta e humilde, tomamos o chá e almocei algo que não sei o nome, uma comida que talvez em condições normais da minha vida ainda que simples, não teria como comer. Lembro que, quando me levaram a comida, uma menina, educadamente me disse- é a refeição que temos, lamentamos! Falava comigo como quem pedia perdão por algum pecado a cometer! Sorri e disse- aos meus olhos, está com um bom aspeto, comi, não tenham a dúvida, por pura educação. No caminho, durante a volta, lembrei que a menos de um mês, comprei 2 livros: um queria comprar desde há muito- Gustave Flaubert, Madame Bovary, o segundo, o de Professor Carlos Lopes- e continuo a pensar ainda nos livros que tenho de ler, pois tenho de os ler, mas, ainda não tenho o tanto de dinheiro que preciso para os comprar- Estrangeiro de Albert Camus, Irmãos Karamazov de Dostoiévski, Mayombe de Pepetela, A Educação de um idealista, de Samantha Power, ou simplesmente a Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera.
Ainda em Gambassi, algo chamou a minha atenção – os 2 mil franco cefa que distribui aos que participaram do grupo focal, houve um que, na minha presença, chamou a esposa e disse: trata de ir arranjar algo para almoço, pus-me a pensar- eu quero comprar livros que custam fortunas, mas aqui, tudo o que querem é ter a certeza de que amanhã, vai ter algo para cobrir o arroz. Enfim. É aqui que onde entra Jorge Sena antes de eu dizer o que isto tem a ver com o livro Fala de Alma do autor R.N.
Tanta gente em situação de fome na nossa terra, por que se escreve os livros? Quem os lerão? Neste país de mais de 50% dos analfabetos, de mais 70% de taxa da iliteracia, etc.
Talvez porque, quem escreve, escreve para se libertar e para testemunhar o mundo a sua visão das coisas e o seu sentimento sobre as coisas. Foi o que R.N fez. Um livro que chora e lamenta a Guiné-Bissau, o livro foi buscar no passado os exemplos que poderiam inspirar a nova geração dos guineenses, um livro que olha para o presente com interrogações, magoas, cicatrizes, angustias e alguma esperança não clarificada e, por fim, um livro que questiona se a Guiné-Bissau terá um futuro. Para o contexto em que se vive, na Guiné-Bissau, é um livro necessário.