Imagem de Fogueira Eleitoral

Fogueira Eleitoral

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Fogueira Eleitoral

Em Cabo Verde, as campanhas políticas estão sempre em brasa: ao longo do mandato, seja como governo ou oposição, toda a acção da classe política cabo-verdiana tem como motivo único a vitória eleitoral. NUNCA a governação.  

 No final de cada mandato, as campanhas recrudescem, passando de brasas a fogueiras. Já no final de um ciclo partidário, com a Maioria e o Governo em declínio, a sua virulência assume a forma de fogo florestal. 

 O MpD encontra-se no poder há 9 anos; e fracassou no cumprimento da quase totalidade das suas promessas eleitorais. Deseja ardentemente uma terceira vitória – mas sabe que as suas perspectivas são fracas.  

Como solução, oferece uma nova promessa ao eleitorado fatigado: a promessa de que, neste último ano de mandato, todas as promessas anteriores serão finalmente cumpridas. 

 Nos últimos dias, o governo anunciou a aprovação do Regime Jurídico da Renda Resolúvel; a construção de centenas de habitações; a contratação de 70 médicos em Cuba; e a construção de um navio para o transporte inter-ilhas. 

 Estes anúncios deveriam ter sido feitos em 2017, como o início da trilha do Governo de Ulisses Correia e Silva, que prometeu soluções céleres para tudo o que nos afligia.  

 Mas no final de um segundo mandato, a menos de um ano das legislativas, qualquer promessa eleitoral do MpD enfrentará anticorpos poderosos. 

 Mesmo assim, a Maioria detém uma vantagem objectiva: a possibilidade de manter e expandir clientelas; de fazer campanha com os recursos do Estado – recursos esses que esbanjou, ou simplesmente não geriu, em nove anos de governação.  

 O eleitorado Cabo-verdiano tem sido constantemente acusado de conformismo, por aceitar com passividade uma má governação sistemática; ou bipolaridade, por não enxergar nada além da cor partidária.  

 Em parte. Mas, muitas vezes, o eleitor simplesmente chega á conclusão que o seu voto não muda a estrutura do regime que o mantém marginalizado; que a sua escolha é entre não participar no ato eleitoral; ou arranjar forma de se inserir num sistema de clientela que lhe renda alguma vantagem imediata. 

 Para além das promessas materiais, o MpD também anunciou uma medida de combate ao seu desgaste simbólico: a edificação de um monumento à Democracia e à Liberdade na cidade da Praia. 

 Uma das principais características do final de um ciclo partidário – e tudo indica que é onde nos encontramos – é o aumento da raiva e do ressentimento do eleitor. Nesse caso, a sua passividade diminui e o resultado, tal como vimos em 2016, é uma vantagem psicológica para a oposição. 

 A maioria vai certamente aproveitar o monumento para glorificar a si e aos seus; mas a eficácia da medida é duvidosa; um simples monumento dificilmente comutará os efeitos de 10 anos de promessas ocas ao eleitorado.