Os protestos pós-eleitorais que se seguiram às eleições de 9 de Outubro foram respondidos com violência policial. Perante bloqueios de estradas a polícia respondeu com gás lacrimogéneos e balas reais. Pelas redes sociais circularam vídeos de jovens atropelados por carros militares ou de jovens manifestantes baleados pela polícia, sem posterior assistência. À violência da polícia, a população respondia com o lançamento de pedras, por vezes de cocktail molotov e, por todo o país, dezenas de esquadras foram queimadas e unidades económicas saqueadas.
A polícia reagiu com mais violência, detendo manifestantes, muitos dos quais permanecem até hoje desaparecidos, tendo alguns sido assassinados com recurso a armas de fogo. Desde o início dos protestos, a plataforma Decide já contabilizou 349 mortos dos quais 42 polícias. Entre milhares de feridos.
A violência policial não faltou na cerimónia da tomada de posse do novo Presidente, com cargas policiais sobre manifestantes a poucas dezenas de metros do palco presidencial. Tornaram-se virais as imagens de uma mulher chamboqueada pela polícia de intervenção rápida. A vítima veio a ser entrevistada por um jornalista e, na sequência da conversa, conficenciou o que mais gostava de fazer nos seus tempos livres: cantar. E cantou uma música de Carlos Chongo, intitulada Iahelo, que ficou célebre durante a guerra entre a Renamo e o governo de Moçambique.
Em Iahêlo (que significa “estamos a acabar”) Chongo canta vha teka swibamo va swi yentxa xibalakatsa (levam armas e fazem de fisgas); Ha vanu vadlawa hingaku hi swi nhanhana (as pessoas são mortas como passarinhos). A música traduz a brutalidade dos homens armados sobre as populações. Da mesma forma que as crianças pegam em fisgas e disparam, de forma tonta e infantil sobre tudo o que se mexe, incluindo pessoas, também as forças de defesa e segurança disparam gratuitamente sobre as populações, que caem que nem tordos.
Na última semana continuaram os ataques de populares a esquadras da polícia, invadindo residências de líderes da Frelimo e mergulhando nas respectivas piscinas, ou ocupando terrenos da numenklatura. Sedes do partido Frelimo foram queimadas em plena província de Gaza, onde no passado grupos de choque da Frelimo vandalizaram sedes da oposição.
Antigos governantes provam hoje o sabor amargo da violência, a mesma que ordenaram ao longo das últimas décadas. Hoje assustam-se com a uma população que pegou nas fisgas, e que as dispara de qualquer maneira sobre alvos identificados.
Entretanto, Daniel Chapo associou a onda violência dos manifestantes ao terrorismo em Cabo Delgado, que promete combater com veemência. Num cenário em que apresenta enormes dificuldades para providenciar serviços públicos, uma resposta violenta do Estado só alimentará o sentimento de Estado contra a população, aumentando a agressividade dos protestos. Sem armas para marchar sobre o palácio da Presidência, o xitsungo (a população) vai ensaiando, onde pode, o tão falado mergulho popular na piscina presidencial: para já mergulha nas piscinas privadas dos membros séniores do partido.