O jornalista Carlos Santos, da Rádio de Cabo Verde apresentou uma queixa junto da Autoridade para a Comunicação Social contra o secretário-geral do Movimento para a Democracia, Agostinho Lopes, por tentativa de censura ou cerceamento da liberdade de imprensa.
A queixa de Carlos Santos responde a uma queixa contra a RCV, divulgada há duas semanas pelo MpD, que acusa Santos de falta de rigor na informação que transmite; e, crucialmente, de participar num alegado complot para anular intervenções favoráveis á Situação.
Até 2016, o MpD acusava o PAICV, então no poder, de dar asas à sua natureza ditatorial e perseguir todos os formadores de opinião que tinham uma postura critica sobre a governação. Infelizmente, os valores democráticos que eram então defendidos acerrimamente pelo partido foram traídos assim que o MpD reconquistou o Poder.
No caso de Santos, o MpD afirma que não se trata de liberdade de imprensa, mas sim de uma estratégia clara de ataque à Maioria.
As democracias Ocidentais gabam-se dos direitos à informação que garantem aos seus cidadãos, mas o facto é que – tal como em outros sectores – a informação obedece sistematicamente aos interesses do capital.
Nos Estados Unidos, o capital que sustenta as principais cadeias de notícias é privado e de forte orientação zionista. É por isso que, desde Outubro de 2023, temos testemunhado a recusa de cadeias como a CNN, a MSNBC e a BBC em enquadrar devidamente os crimes cometidos por Israel – e amplamente documentados – contra a população civil de Gaza.
Em Cabo Verde, o capital que sustenta os principais órgãos de comunicação pertence ao estado – num país onde o cidadão tem pouca experiência da democracia. Consequentemente, os canais estatais servem, invariavelmente, os interesses do governo e do partido que o suporta – não os do cidadão.
O controle do estado sobre a imprensa não é exercido de modo constante ou uniforme. A sua intensidade depende de um leque de factores, tal como o nível de segurança dos governantes e a proximidade das eleições.
Quando os governantes estão tranquilos, declaram respeito rigoroso pela liberdade de imprensa; e apontam os nossos elevados Rankings na matéria, que contrastam facilmente com a situação da imprensa em tantos destinos da nossa região.
Contudo, quando se aproximam as eleições, o poder político torna-se descarado nas suas tentativas de controlar a informação veiculada pelos órgãos do Estado; e ousado nas estratégias que monta para desacreditar os jornalistas e fazedores de opinião que opõem as suas narrativas.
É nesse ponto que o MpD se encontra presentemente: agravado pelo desgaste de uma governação falhada e pelos resultados desastrosos das autárquicas em dezembro passado. E é esta a verdadeira motivação por trás da perseguição a Carlos Santos.