Imagem de Moçambique é um país lusófono?

Moçambique é um país lusófono?

Imagem de Moçambique é um país lusófono?

Moçambique é um país lusófono?

Moçambique é considerado um país lusófono. Mas a taxa de analfabetismo no país ronda os 40% e grande parte da população moçambicana não fala a língua portuguesa.
Para grande parte da população, o português é considerado a língua do Estado e, historicamente, tudo o que vem do Estado geralmente não é positivo: do imposto da palhota ao trabalho e culturas obrigatórias, das aldeamentos coloniais às aldeias comunais, da cadernata indígena à guia de marcha, ao longo da história, grande parte da violência do Estado foi falada em português. As leis estão escritas em português e em muitas repartições públicas é esta a língua oficial. Nos julgamentos, os réus e testemunhas escutam os magistrados na língua portuguesa e é neste idioma que devem tentar comunicar, aumentando o seu receio em relação à justiça. Para grande parte da população o português representa uma língua madrasta.

O português é também a língua do mercado formal, do sector privado e das ONGs, de onde grande parte da população está excluída. Esta forma como a população encara a língua de Camões afecta a forma como um investigador se relaciona no terreno com o seu objecto de estudo. Apresentando-se na língua oficial, o investigador apresenta-se como detentor do poder, proveniente da autoridade do Estado ou do capital, associado ao investimento e extracção de recursos ou à ajuda humanitária. A população cria assim uma atitude ambígua, com receio mas procurando retirar oportunidades dessa relação. Grande parte das respostas dadas pelas populações são meramente estratégicas. Acresce o problema dos intérpretes, fundamentais para a realização de traduções, mas que filtram aquilo que é dito ou realizam as suas próprias interpretações.

Um pouco por toda a Europa, as antigas potências coloniais constituíram vários centros de estudos africanos, onde em alguns se ensinam línguas deste continente. No School or Oriental and African Studies (SOAS) em Londres, foram constituídos materiais audiovisuais para a aprendizagem de línguas como o Swaili ou o Zulu. Em Portugal, a Escola de Altos Estudos coloniais, que formava administradores para as colónias, ensinava o Makua de Moçambique. Mas com a descolonização deixaram-se de estudar e ensinar línguas africanas. Mesmo no Brasil, onde no Nordeste florescem alguns centros de estudos sobre África, pouco ou nenhum esforço é realizado no ensino destas línguas. Tudo se passa como se Moçambique fosse um país lusófono. Mas não é. É um país bantu.