De regresso à opinião semanal, o enfoque cai, naturalmente, sobre a campanha eleitoral em curso em Moçambique. Em relação às eleições presidenciais, as propostas políticas avançadas pelos quatro candidatos merecem a nossa atenção, sobretudo pelos temas que não tratam.
As propostas de governação avançadas por Daniel Chapo, apoiado pelo partido Frelimo, no poder, Ossufo Momade, apoiado pela Renamo, Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique, a terceira força parlamentar e Venâncio Mondlane, com o apoio do PODEMOS, um partido sem assento parlamentar, são convergentes na vertente económica, prometendo também uma luta cerrada contra a corrupção, entre outras propostas.
Mas quais as propostas concretas para garantir um presente à nossa juventude, que é uma parte importante do nosso eleitorado?
Prometer terrenos, apoiar os jovens sobretudo através do empreendedorismo são sugestões que carecem de estruturação. E qual a sua ligação com a necessidade de reinventar e reconstruir a nossa “moçambicanidade”? E aqui destaco o problema da educação. É preciso cultivar uma cultura de cortesia, de boa educação, de respeito mutuo entre moçambicanos e moçambicanas. A educação é um processo de construção da nossa cidadania e não cabe apenas às escolas esta tarefa. É algo em que toda a nossa sociedade participa, formando e educando-nos.
E o apoio efetivo, concreto às escolas, sobretudo ao ensino público obrigatório tem de estar na linha das prioridades do próximo governo. Formar cidadãs e cidadãos com consciência dos problemas do país, moçambicanos e moçambicanas que imaginam o futuro a partir das suas experiências, saberes e lutas é um legado que não devemos perder. É que ser-se cidadãos não deve ser sinónimo de ser rico; deve ser sinónimo de ser consciente e conhecedor dos problemas que enfrentamos, e capaz de procurar, com apoios, soluções para estes. Porque é tão difícil esta opção? Eu sou do tempo em que os cadernos eram de fraca qualidade, só tínhamos uma caneta, mas guiava-nos o desejo de conhecer para transformar.
Quantas escolas primárias e secundárias públicas possui o país? E quantos jovens e menos jovens frequentam, no ensino diurno e noturno, estas escolas? Alguém já fez uma avaliação em profundidade dos problemas deste ensino, onde parte importante da responsabilidade recai sobre professores mal pagos e sem, muitas vezes, suficiente material de apoio? Será o bom ensino sinónimo de ensino privado apenas?
São estas as representações do futuro que queremos deixar aos nossos jovens? Queremos ter medalhas nos jogos olímpicos, como já nos mostro ser possível Ludes Mutola. Mas para isso é preciso investir no parque escolar, na educação física com campos de treino, e material de desporto. É patente o descuido politico com o ensino público no país. E eu orgulho-me de ter estudado sempre no ensino público. Sim, é possível, mas porque é que agora há tantos entraves? Quem está a pensar esta etapa fundamental da formação dos jovens cidadãos e cidadãs de amanhã? Não é possível futuro sem educação. Uma má educação, sem investimento do Estado, como garante a constituição de Moçambique, só pode resultar num futuro desastroso, em que continuaremos a depender de quadros estrangeiros para pensarem o nosso futuro que não sei se será melhor. O que têm a dizer os candidatos à Ponta Vermelha a este respeito? Será possível uma visão comum para este grave problema? Esperemos que sim.