Numa altura em que estamos suspensos, em Moçambique, da decisão do Conselho Constitucional sobre o resultado das eleições do passado dia 9, qual a minha opinião sobre Moçambique? Qualquer opinião reflete seja um lugar de esperança, seja uma opinião crítica sobre algo que não está bem e que é possível melhorar. Nesta altura peculiar da nossa história, não é possível rendermo-nos à frustração. Mais de cento e trinta moçambicanos e moçambicanas morreram fruto de confrontos durante esta crise politica; na semana passada, cinco anos após o ciclone Kenneth, um novo ciclone atingiu o norte de Moçambique. Com a reconstrução pós-Kenneth ainda em curso, o ciclone Chido terá tirado a vida a cerca de cem pessoas, tendo afectado mais de 300.000 pessoas, sobretudo mulheres e crianças. Mais de 21.mil casas foram total ou parcialmente destruídas. Além disso, inúmeras escolas, unidades de saúde e administrações locais foram danificados. Num ambiente tenso, atravessado por intensa acrimónia política, importa que nos agarremos a momentos de esperança, para acreditar no amanhã. E os jovens estão-nos a mostrar isso.
Na semana passada a equipa feminina da Universidade Pedagógica trouxe para Moçambique o título de bicampeã regional de voleibol de sala, numa competição onde outro representante moçambicano, o Aliança, em masculinos, terminou em quarto lugar.
Mais ainda, o Ferroviário de Maputo sagrou-se campeão continental na final da Liga Feminina Africana de Basquetebol, em Dakar, no Senegal. As jogadoras do Ferroviário de Maputo venceram a equipa APR do Rwanda nas meias-finais e o Al Alhy do Egipto nas finais, conquistar o título. Convém referir que este é o terceiro título conquistado pelas “locomotivas” da capital do país que já haviam alcançado este feito em 2018 e 2019.
No campo das industrias culturais, Mário Macilau, um renomado artista visual foi distinguido com o Prémio 2024 das Indústrias Culturais e Criativas de Moçambique na categoria de fotografia. Este galardão vem reconhecer o impacto significativo e contínuo do trabalho de Mário Macilau, que nos insta a refletir sobre a condição humana, o tempo, a memória e a identidade de Moçambique e de África. Através da fotografia Macilau avança com narrativas que expressam a complexidade da vida cotidiana, tornando-se uma das vozes mais autênticas da arte contemporânea em Moçambique. No campo da escrita, a Ethale Publishing, uma jovem editora fundada por jovens foi reconhecida pelo Prémio 2024 das Indústrias Culturais e Criativas de Moçambique pela sua contribuição na literatura, nomeadamente o seu trabalho de publicação de autores nacionais, tradução de livros de literatura africana e vários programas para impulsionar leitores. O Prémio 2024 de literatura foi para José dos Rmédios, um ensaísta, jornalista e escritor, conhecido pelos seus perspicazes ensaios na literatura moçambicana e pela divulgação da cultura moçambicana dentro e além-fronteiras, com um trabalho que tem sido fundamental para os alicerces da mesma no país.
Às vésperas do Natal ou da festa da família, há esperança em Moçambique. Há esperança de diálogo, de acordos que coloquem o nosso país no mapa da cidadania ativa, da democracia, da justiça social.