Durante as campanhas eleitorais, o foco de qualquer sociedade converge naturalmente sobre a política; em casos de bipolaridade, como o nosso, o país parece transformar-se num recinto dedicado exclusivamente ao derby partidário.
Mas o facto é que, independentemente da presente corrida às autárquicas, várias instituições públicas continuam a ter metas próprias a cumprir – com urgência particular no último trimestre do ano.
Durante uma operação conjunta da polícia judiciária e da polícia nacional – integrada no plano de combate ao tráfico de drogas na ilha de São Vicente – foram realizadas quatro buscas em residências, resultando na apreensão de 112 gramas de cannabis, 1 grama e meio de cocaína, e 24 mil escudos em dinheiro.
Ninguém duvida da legalidade da apreensão; mas dada a exiguidade dos resultados, urge reflectir sobre a relação custo benefício desta iniciativa policial.
A conclusão inevitável é que a operação constituiu um desperdício lamentável de recursos – principalmente em vista dos reais problemas que exigem o empenho das nossas autoridades.
Há muito que o combate ao tráfico de narcóticos é um dos temas favoritos das autoridades cabo-verdianas. O problema do álcool é de longe mais significativo para a saude pública, particularmente tratando-se de bebidas produzidas ilegalmente, segundo processos mortíferos.
Contudo, se os objectivos da governação são puramente demagógicos, a narrativa do engajamento das autoridades no combate à droga é de longe mais rentável.
Em primeiro lugar, perante o aumento real da violência urbana, promove a imagem dos agentes de combate ao crime, apresentando-os como heróis em narrativas pré-fabricadas sobre o tráfico de narcóticos.
Segundo, permite angariar toda a sorte de apoios internacionais, materiais e simbólicos, junto de um rol de instituições sensíveis à problemática e dispostas a desembolsar.
Mas, fundamentalmente, este tipo de operação permite aos governantes empolar as estatísticas de combate ao crime; e promover uma imagem de eficácia governativa quando forem questionados sobre a segurança pública nos debates parlamentares e noticiários televisivos.
Da próxima vez que uma instância de violência urbana chocar o público, o Governo poderá utilizar esta e outras apreensões estéreis – que constituem nada mais do que um desperdício dos parcos recursos do estado – para convencer os cidadãos de que as instituições envolvidas estão a trabalhar incansavelmente para o bem comum.
Quando a liderança política do Estado se preocupa exclusivamente com a sua imagem e com as suas vantagens eleitorais, as chefias institucionais sentem-se à vontade para fazer o mesmo. Aliás, no universo demagógico em que se move a governação cabo-verdiana, é bem provável que não tenham outra escolha.