A reunião da Direcção Nacional do Movimento para Democracia, realizada no passado dia 11 de Janeiro, tinha o propósito central de gerir a crise provocada no partido pelos resultados desastrosos obtidos nas autárquicas de 1 de Dezembro.
As fissuras no MpD não nasceram nestas autárquicas. Após a derrota de Carlos Veiga nas presidenciais de 2021, o partido dividiu-se em duas facções: uma ligada ao Governo de Ulisses Correia e Silva, actualmente no poleiro, e outra – a ala veiguista – encabeçada pelo deputado Paulo Veiga, ex-ministro do Mar.
A rivalidade entre entre as duas correntes ficou patente na troca de farpas que sucedeu as presidenciais; e evidenciou-se claramente na candidatura à Câmara Municipal da Praia.
Um acordo tenso resultou na inclusão de Alberto Mello na lista de Abrão Vicente, mas não trouxe mais valia à candidatura, que foi violentamente derrotada pelo incumbente Francisco Carvalho.
Apesar do agravamento das fissuras, a Direcção Nacional decidiu contra uma Convenção Nacional extraordinária; apenas antecipou a Convenção prevista para 2026, agendando-a para o último trimestre de 2025. Este agendamento neutraliza efectivamente potenciais rivais do actual primeiro-ministro e presidente do partido.
As legislativas são geralmente agendadas para o primeiro trimestre do ano; nenhum outro pretendente, mesmo que vitorioso nas eleições internas, teria tempo para preparar uma candidatura nacional. Ou seja, a confirmação da liderança de Ulisses Correia e Silva até o final de 2025 praticamente garante a sua candidatura às legislativas de 2026.
Há muito que Paulo Veiga manifesta ambições à liderança do partido; mas sem nunca ter declarado formalmente uma candidatura. Contudo, nesta reunião, parece ter percebido a insuficiência do seu apoio. Mesmo com destacados membros da corrente veiguista presentes, o actual PM foi confirmado por unanimidade.
Ulisses Correia e Silva assumiu a responsabilidade política pelos maus resultados das autárquicas, mas destacou um estudo de opinião que aponta confiança na melhoria das condições de vida em 2025.
Segundo o MpD, o estudo indicou que o desempenho do Governo não foi determinante nos resultados e mostrou que os cabo-verdianos acreditam numa melhoria no próximo ano.
Contudo, esta visão otimista contrasta com uma opinião pública cada vez mais insatisfeita, devido à persistência do desemprego, o alto custo de vida e a perceção de um governo dominado pelo nepotismo e por interesses obscuros.
Uma possível remodelação governamental ficou em aberto, com decisão final nas mãos do primeiro-ministro. Mas, nesta altura do mandato, qualquer alteração será apenas cosmética; e dificilmente afectará o desempenho do partido antes do próximo embate eleitoral.