Imagem de Nigéria na Fronteira 

Nigéria na Fronteira 

Imagem de Nigéria na Fronteira 

Nigéria na Fronteira 

No passado dia 13, cinco cidadãos nigerianos chegaram à ilha do Sal, num voo de Dakar, para férias em Cabo Verde. Contudo, a sua entrada foi recusada, dando início a um processo que mobilizou a atenção do país. 

A Direcção de Estrangeiros e Fronteiras alega que a recusa deveu-se à incapacidade dos elementos do grupo de apresentar as reservas de alojamento e os comprovativos financeiros exigidos na entrada.  

Os lesados garantem que apresentaram os comprovativos necessários; e pediram acesso a uma caixa automática, para comprovar seus meios de subsistência.  

A sua defesa alega que a polícia não demonstrou qualquer interesse ou zelo no esclarecimento da situação. E após serem retidos durante três dias, os cinco nigerianos foram deportados. 

A reação imediata do público foi atribuir este desfecho a um racismo supostamente entrincheirado na mentalidade Cabo-verdiana. Mas uma leitura tão simplista do problema não nos trará soluções. Um racismo cabo-verdiano semelhante ao brasileiro ou americano não se sustenta perante a História.  

Um exemplo ilustrativo é Aristides Pereira, o nosso primeiro Presidente da República que poderia passar por senegalês- que nunca teria sido presidente no Brasil.  

Mas aqui, a questão racial não foi levantada porque ela simplesmente não existia. Em Cabo Verde, não há contradição entre pele negra e poder politico, económico, ou social.  

O nosso problema não é negritude; é africanidade – e está dividido em duas componentes fundamentais. A primeira é a nossa trágica absorção da narrativa colonialista: que a África é primitiva; e que as suas contribuições culturais são desprezíveis.  

Os ideais que consumimos na TV e online são quase exclusivamente ocidentais, e toda a nossa envolvente política incita-nos a engoli-los sem questionar. Mas para além dessa dimensão simbólica, existe uma questão material. 

A Nigéria é uma das maiores economias africanas; uma potência cultural, que venceu o primeiro Nobel da literatura em África. Por comparação, Cabo Verde é o cúmulo da insignificância; mas paradoxalmente, o cabo-verdiano tem um nível de vida mais alto que o nigeriano.  

O nosso rendimento per capita é de 9700 dólares, enquanto o nigeriano é de apenas 6000. E o nosso índice de desenvolvimento humano é o 11º do ranking africano, enquanto a Nigeria ocupa o 25º lugar.  

Ou seja, ˙há mais imigrantes nigerianos a procurar Cabo Verde do que o contrário. E isto é grande parte do problema: a nossa experiência da Nigéria resume-se ao imigrante, a quem nos consideramos económica e socialmente superiores.  

O emigrante Cabo-verdiano dirige-se para onde o rendimento per capita é mais alto do que o seu – e é para os habitantes desse mundo Ocidental, sejam eles negros ou brancos, que reservamos a nossa subserviência. 

Para além de questões ideológicas e morais, esta atitude lamentável perante identidades continentais levanta um problema politico delicado.  

A nossa pertença á Comunidade Económica de Estados da África Ocidental obriga-nos a um acordo de livre circulação. Um acordo que é integralmente respeitado por todos os outros estados membros – que as nossas instituições são obrigadas a respeitar, independentemente dos devaneios culturais ridículos dos nossos particulares.