No passado dia 14 de abril, o navio de carga “Nhô Padre Benjamim”, levando a bordo 21 ocupantes, afundou ao largo da ilha de São Nicolau.
No dia 21, o navio Liberdade, da CV Interilhas, sofreu uma avaria no início de uma viagem para a ilha do Fogo. Obrigado a regressar ao Porto da Praia, “perdeu o controlo” numa manobra e embateu numa pedra junto da Praia Negra, onde encalhou, com 144 passageiros a bordo.
No dia 23, um barco de pesca com 19 tripulantes encalhou na ilha do Maio, contando o terceiro acidente marítimo em menos de dez dias.
Para completar o cenário periclitante do sector dos transportes, na semana passada, o novo avião da Guarda Costeira — que foi anunciado pelo governo com pompa e circunstância — sofreu danos numa hélice durante uma aterragem, na sua primeira missão médica de emergência. Encontra-se fora de operação.
Não houve perigo para pessoas em nenhuma destas ocorrências, mas aumentaram as barreiras à circulação interna, que já é muito problemática; e a péssima imagem do sector dos transportes afundou ainda mais.
Quando o MpD venceu as eleições em 2016, Ulisses Correia e Silva e seu executivo gozaram de um curtíssimo período de graça. A incapacidade de apresentar as soluções prometidas cedo ficou evidente, assim como o corporativismo destrutivo da nova administração.
A título de exemplo, logo em 2017, Olavo Correia, ministro das Finanças, aumentou descaradamente as tarifas sobre a importação de sumos e lacticínios — com o objetivo evidente de eliminar a concorrência de uma produtora local, da qual tinha sido administrador e na qual ainda detém uma participação.
Nas eleições subsequentes, em 2021, a vitória do MpD deveu-se a uma mistura do empobrecimento da população e da incompetência da oposição.
Com uma expansão radical de manobras de clientelismo, Silva logrou arrancar mais um mandato; mas, mais uma vez, utilizou-o unicamente para satisfazer as exigências da sua corporação.
Nove anos de má gestão esgotaram a confiança do público na atual maioria. A única hipótese de vitória em 2026 assenta em investimentos públicos avultados e visíveis; e na capacidade do MpD de reverter, pelo menos parcialmente, os desastres em andamento em sectores cruciais como os transportes.
Mas, contrariamente ao que seria necessário para manter a possibilidade de vencer nas próximas eleições, o MpD sofre desaires consecutivos em diversas valências, que perigam gravemente as suas hipóteses de obter um terceiro mandato.
Por um lado, a série de encalhamentos altamente mediáticos listados acima; por outro, anúncios, como o do Ministro das Finanças, do possível encerramento da agência norte-americana Millennium Challenge Corporation, com quem Cabo Verde tem um acordo de financiamento — acordo que o próprio Correia garantiu, em fevereiro, não estar em risco.
Segundo o Horóscopo Chinês, 2025 é o ano da Serpente. Simboliza transformação e renovação, sendo propício para abandonar o que já se tornou inútil e buscar novos caminhos.
Estes atributos descrevem o presente momento político na perfeição; mas têm, naturalmente, significados radicalmente diferentes para o MpD e para o país.
Para o país, significa esperança na renovação — ainda que provavelmente infundada; para a situação, significa a probabilidade do final de um ciclo de poder.