A diplomacia que permitiu a fundação de Estado guineense e a atual realidade diplomática é um paradoxo. A fundação de Estado guineense, sem a menor sombra de dúvida, foi uma das melhores conquistas diplomáticas já vista, diferentemente de muitos.
O Estado guineense não é uma criação burguesa. Foram as forças vivas e nacionalistas que levaram a cabo todo o processo de luta e combate pela libertação dos povos da Guiné e de Cabo Verde, do jugo colonial e da opressão que durou séculos.
É nesse contexto que um filho de Bafatá, de Guiné-Bissau, da África e do mundo, serviu como intérprete das aspirações de sonhos, desejos e vontades dos povos da Guiné e de Cabo Verde. Traduziu-se num ideólogo. Assumindo este papel, permitiu a que o ilustre filho da África conseguiu desencadear uma frente diplomática, no contexto do manequismo político e diplomático global, no contexto que o mundo estava dividido entre o pacto de Varsóvia e NATO, nomeadamente Estados Unidos da América e a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviética.
Ele, o ilustre filho da África, soube, e de que maneira, movimentar-se defendendo os seus interesses na arena diplomática mundial. Inspirador de uma diplomacia responsável, Cabral conseguiu chegar ao Vaticano.
Discursa na 4ª Comissão da Assembleia da ONU, em 62, esteve em Havana, no Tricontinental. Convenceu os suecos, os russos, os cubanos e granjou simpatia até mesmo no campo ocidental.
Cabral dizia, para não proclamar vitórias fáceis, por isso talvez fazia questão de estudar cada realidade e tomá-la como específica. Isto lhe permitia não cair em mimetismos e equívocos na arena diplomática internacional.
É por estas e outras razões que a Guiné-Bissau começou a dar os seus primeiros passos como um gigante na diplomacia. A luta armada de Guiné-Bissau, muito mais do que uma guerra de guerrilha, foi sim no campo diplomático onde se deu e se desenvolveu melhores ações que levaram à conquista do respeito, da honra e da dignidade do Estado guineense.
O diplomata Amílcar Cabral, que agora completa os 100 anos, no dia 12 de corrente mês, entregou aos guineenses um país invejável, como disseram, farol da África.
Entregou um país com honra, com dignidade, com brio.
Neste ano em que se celebra o centenário de Cabral, como está a diplomacia Bissau-guineense?
O que resta de toda a engenharia diplomática de Amílcar Cabral?