O Movimento para a Democracia é a maioria parlamentar desde 2016; mas dominou as eleições locais muito antes disso.
Em 2008 Ulisses Correia e Silva, atual primeiro ministro, venceu Felisberto Vieira do PAICV na capital; e em 2012, o MpD teve uma vitória inequívoca nas autárquicas, a nível nacional.
A tendência continuou. Aliás, em 2016, a falência do PAICV era tal que, após uma derrota nas legislativas em março, foi arrasado nas autárquicas em setembro, vencendo em apenas dois dos 22 municípios nacionais.
Mas a imagem do governo do MpD degradou-se rapidamente após a vitória; o que permitiu ao PAICV recuperar facilmente algum terreno municipal: recuperou antigos bastiões, como são Filipe, no fogo, perdido pela primeira vez em 2016; e venceu pela primeira vez em municípios como São Domingos e Tarrafal de Santiago, duas praças tradicionais do MpD.
As autárquicas de domingo passado reverteram definitivamente o mapa de poder municipal e deram uma vitória clara ao PAICV: dos 22 municípios Cabo-verdianos, o PAICV venceu em 15. Manteve a capital e conseguiu algumas reviravoltas inesperadas em bastiões tradicionais do MpD, como a ilha do Maio.
Nas autárquicas de 2012 a vitória do MpD anunciou a falência política do PAICV – e uma possível transferência do poder executivo, que se consumaria em 2016. Da mesma forma, esta vitória do PAICV em 2024 faz prever uma dinâmica de mudança no cenário político nacional.
Primeiro, pelas personalidades que as estas eleições projectaram, nomeadamente Francisco Carvalho – presidente reeleito da Camara Municipal da Capital. O edil da Praia é quase que automaticamente projectado para a visibilidade nacional, e Carvalho está a fazer bom uso da sua plataforma.
Segundo, as mudanças anunciam-se pelas fragilidades que os resultados evidenciaram. Em 2016, a validação de Ulisses correia e Silva era suficiente para eleger qualquer candidato municipal do MpD.
Óscar Santos era um perfeito desconhecido, mas a benção política do novo Primeiro Ministro garantiu-lhe a vitória no terreno complicado da capital. Oito anos depois, a imagem desacreditada de Correia e Silva já não representa qualquer vantagem eleitoral.
Ou seja, o PAICV dispõe, na pessoa de Francisco Carvalho, de uma potencial candidatura legislativa fresca para 2026 – tal como José Maria Neves foi em 2001 e Ulisses Correia e Silva em 2016. Já o MpD apresenta menos possibilidades de se renovar.
Candidaturas marginais como a de Orlando Dias não têm qualquer hipótese realista de singrar; e possíveis lideranças, como Paulo Veiga – anterior ministro do Mar e Líder Parlamentar – teriam que se movimentar muito mais decisivamente do que estão a fazer para ter qualquer chance de vencer as próximas legislativas.
Resumindo: os resultados das autárquicas de 2024 são um prelúdio do terreno eleitoral que se anuncia para as legislativas de 2026.