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Imagem de O Veto do Presidente  

O Veto do Presidente  

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O Veto do Presidente  

No ano passado, quando Abrão Vicente anunciou a sua candidatura á Câmara Municipal da Praia, foi difícil acreditar que a cúpula do Movimento para a Democracia, não tinha a noção clara da inadequação de Vicente para a tarefa.  

 Para a maioria dos observadores era evidente que, qualquer candidatura do MpD contra o incumbente Francisco Carvalho, do PAICV, estaria votada ao fracasso. Por essa razão, pareceu estranho que Ulisses Correia e Silva arriscasse um membro destacado do seu Executivo nessa batalha perdida.  

 Especulou-se na época que Vicente poderia aceitar levar a cabo uma campanha pré-derrotada, se obtivesse um cargo apetecível como recompensa – tal como aconteceu com Oscar Santos, após a sua derrota em 2020. 

 Efectivamente, na semana passada, a opinião pública foi informada por uma publicação de Vicente nas redes sociais que o primeiro-ministro propôs o seu nome para liderar a embaixada de Cabo Verde em Portugal – mas que o Presidente da República tinha vetado a nomeação. 

 A verdade é que o veto do Presidente da República à nomeação de Vicente foi tão previsível quanto a sua derrota nas autárquicas. Por um lado, Vicente não é diplomata de carreira, nem apresenta o perfil adequado para a representação diplomática, num destino tão importante para a nossa política externa. 

 Por outro lado, o Presidente da República pertence ao campo da Oposição; portanto não tem razões corporativas para aprovar a nomeação de uma figura inadequada para um posto tão sensível.  

 Este desfecho era evidente, tanto que foi objecto de várias referências por comentadores da actualidade. E é precisamente esta evidência que levanta várias questões: primeiro, porquê que o Primeiro-ministro não previu, tal como o resto da sociedade, o veto presidencial? E, se previu, porque optou por submeter Vicente à humilhação de uma nova rejeição pública? 

 Ulisses Correia e Silva recusou-se a comentar o acontecido; mas tudo indica que o PM recorreu a uma candidatura e uma nomeação que sabia serem votadas ao fracasso com o fim ulterior de afastar Vicente dos centros de decisão política. 

 Aliás, a purga de Vicente parece enquadrar-se perfeitamente na estratégia que guiou a remodelação do governo no inicio do ano.  

 A remodelação foi forçada pela derrota do MpD nas autárquicas; mas a escolha dos novos elementos do Executivo foi reveladora. Os novos governantes provêm de uma geração política anterior, relativamente desenraizada no partido contemporâneo .  

 O seu objectivo parece ser a formação de um núcleo duro no governo, completamente controlado pelo Primeiro Ministro e o seu círculo, capaz de navegar a tempestade política dos próximos meses; e garantir seja a permanência no poder, seja uma saída em condições privilegiadas.