Desde as primeiras eleições plurais em 1991, o poder político Cabo-verdiano é dominado por duas forças – o MpD e o PAICV – que sempre governaram com maioria absoluta.
Num parlamento composto por 72 deputados, nunca uma terceira força conseguiu eleger mais do que 4; e o eleitorado está progressivamente consciente dos prejuízos desta bipolaridade política.
Os Estados Unidos consideram-se um modelo de democracia. Infelizmente, a sua definição de democracia é deficitária, hiper-focada no direito ao voto. Mas sem verdadeiras opções ideológicas, o direito ao voto não constitui uma democracia.
Para o eleitor Americano, a escolha entre Democratas e Republicanos é estritamente cosmética. Ambos os partidos são sustentados pelos donativos de grandes corporações. Em troca, colocam os interesses dos seus doadores acima dos interesses dos seus eleitores.
Em resposta, a sociedade civil americana já produziu um conjunto de propostas eleitorais, como o Partido Verde, por exemplo. Mas tal como em Cabo Verde, a consolidação de terceiras forças tem sido impossível.
O duopólio instalado une-se para escorraçar qualquer organização alternativa do terreno eleitoral, utilizando táticas imorais, muitas vezes ilegais.
E o sistema, supostamente democrático permite-o – apesar da existência de uma multidão de instituições que deveriam garantir a igualdade de circunstâncias perante a lei eleitoral.
Nos Estados Unidos, as políticas do estado em domínios cruciais como a saúde são movidas pelos interesses das mega-corporações do sector.
Em Cabo Verde, na inexistência de uma economia real, o que move o poder político é a necessidade de capturar os recursos directos e indirectos do estado.
Mas o resultado é o mesmo: o predomínio dos interesses privados das corporações políticas e empresariais sobre o interesse público.
E sistema político bipolar é um aliado acérrimo deste status quo profundamente anti-democrático
Na Europa Ocidental, as maiorias absolutas são raras; a norma é os governos serem suportados por coligações partidárias. E apesar dos achaques económicos e sociais sofridos pelas suas populações, o ocidente europeu é a região mundial onde o eleitorado tem mais poder; onde o estado é forçado a garantir serviços de alta qualidade a todos os cidadãos.
Esse sucesso deve-se, em grande parte, à pluralidade organizacional e ideológica do terreno eleitoral. A funcionalidade da maquina do Estado depende do diálogo entre múltiplas organizações, que representam múltiplos interesses. No processo, os interesses dos eleitores são muito melhor salvaguardados do que num duopólio.
A captura do poder político por interesses corporativos continua a existir e protagonizar escândalos; mas a situação do eleitor é objectivamente superior.
Produzir estas terceiras forças é comprovadamente difícil; mas não impossível. Não podemos é continuar a confundir voto com democracia. Porque uma verdadeira democracia, o voto não é cosmético.