As relações entre Angola e a República Democrática do Congo (RDC) já tiveram melhores dias. Esta semana, o Ministério dos Transportes Congolês decidiu interditar a circulação de camiões angolanos pelo Baixo Congo.
O Baixo Congo é uma província congolesa que faz fronteira com Angola e é o caminho mais curto para se atingir Cabinda pela via terrestre. Cabinda é Angola, mas é um enclave. Não tem ligação terrestre com Angola e, portanto, os camiões angolanos têm necessariamente que passar pelo Baixo Congo para atingir Cabinda.
Esta interdição fez com que o Ministro das Relações Exteriores de Angola convocasse o embaixador congolês em Luanda para apresentar o seu protesto. Os congoleses dizem que esta medida é uma resposta a uma medida semelhante de Angola, aproveitam ainda para acusar as Forças Armadas Angolanas de violarem frequentemente a fronteira com o Congo.
Mas não se sabe exatamente o que é que determinou esta interdição agora, pois não há muita informação sobre o assunto. Mas também não me interessa ver as causas, o que me interessa mais é olhar para as consequências. E as consequências destas medidas são um prejuízo para o comércio entre os dois países.
Angola e Congo e RDC partilham uma longa fronteira de mais de dois mil quilõmetros. Em condições normais, Angola devia ser o maior parceiro do Congo e o Congo devia ser o maior parceiro de Angola. Infelizmente isto não acontece.
E isso é muito prejudicial para os dois países. Sabemos que a troca, o comércio, é a base do crescimento económico. E o crescimento económico é a base do desenvolvimento humano. Sem crescimento económico não há desenvolvimento humano. E sem comércio não há crescimento económico.
Infelizmente os dirigentes de Angola e do Congo não percebem isso. Um exemplo concreto é o facto de Angola e o Congo serem os únicos países que não refazem parte da Zona de Comércio Livre da SADC, acrónimo inglês de Comunidade Económica para o Desenvolvimento da África Austral.
Os frequentes conflitos entre os dois países são o resultado de Angola e o Congo não terem sensibilidade para a necessidade de fazerem comércio entre si para se desenvolverem. Em condições normais, esse tipo de conflitos seriam dirimidos no seio da Zona de Comércio Livre da SADC.
É necessário que os dirigentes dos dois países tenham noção da importância que o comércio tem para os dois países de modo a colocarem estas questíunculas de lado e trabalharem no sentido do desenvolvimento comum. Mas para isso é preciso prescindir de alguma soberania e se calhar é aí que está o problema, nenhum dos lados quer prescindir de soberania e daí esta situação em que praticamente não há comércio entre estes dois vizinhos gigantes.