O seu propósito exclusivo é a captura do Estado a fim de dispor dos seus recursos. Essa batalha pelos recursos do Estado não se limita a recursos materiais.
É essencial vencer também a batalha pelos recursos simbólicos do país, nomeadamente a nossa consciência cívica e as nossas narrativas históricas.
O sucesso eleitoral depende da capacidade da classe política de controlar a nossa percepção da realidade do país, de nos fazer acreditar que há muito mais segurança quando não há, que a economia melhora quando não melhora e que os transportes estão muito melhores agora do que quando eram geridos pelo adversário.
Há 35 anos, o governo do PAICV fez cair o quarto artigo da anterior Constituição que consagrava o PAICV como força política dirigente da sociedade e do Estado e abriu a políticacabo-verdiana à competição eleitoral.
Segundo a narrativa do MPD, Cabo Verde viveu sob a ditadura sanguinária do PAICV até ser salvo pelo novo partido.
O que torna esta reivindicação de paternidade da democracia cabo-verdiana ainda mais falaciosa é a equivalência direta que o MPD estabelece entre abertura política e democracia.
O voto que para o MPD resuma a democracia é desprezado por grande parte dos eleitores, como atestam as nossas altíssimas taxas de abstenção.
Duas verdades precisam ser repostas, livres do interesse partidário de ambos os lados.
Primeiro, a democratização de Cabo Verde não se limita à participação política. Não começou em fevereiro de 1990 e muito menos em janeiro de 1991. Começou com a independência, com o alargamento acelerado do acesso à saúde, ensino e trabalho remunerado.
Segundo, a democracia cabo-verdiana ainda é um processo em construção, com vários marcos importantes, entre os quais o 19 de fevereiro de 1990.