A semana em Angola foi marcada pelo arranque de dois julgamentos muito mediáticos.
Um dos julgamentos decorre em Luanda e envolve dois generais muito próximos do antigo presidente José Eduardo Santos, portanto, o mediatismo deste julgamento decorre dos protagonistas do julgamento, dos acusados.
O general Dino, muito próximo de José Eduardo Santos, foi oficial de comunicações do antigo presidente, depois saiu, dedicou-se a negócios, mas continuou dentro do círculo presidencial.
O segundo é o general Kopelipa. Acompanhou o presidente José Eduardo Santos até sair do poder, foi durante muitos anos o seu chefe da casa militar e, simultaneamente, dedicava-se a negócios.
A razão do julgamento são exactamente os negócios, os negócios conjuntos entre o general Dino e o general Kopelipa, envolvendo também duas ou três empresas chinesas.
Os dois generais são acusados de terem tido negócios com o Estado em que lesaram o Estado em centenas de milhões de dólares.
O segundo julgamento decorre no Huambo, uma província no centro do país e envolve sete pessoas perfeitamente desconhecidas.
O mediatismo do julgamento decorre do tipo de crimes de que são acusados e esses crimes são actos preparatórios de terrorismo. Os acusados são perfeitamente desconhecidos, ninguém os conhecia.
Curiosamente, os dois julgamentos estão a ser marcados pelas ausências.
No caso do julgamento dos generais, o grande ausente é o antigo vice-presidente Manuel Vicente, que teve negócios com os dois generais, é citado nos autos, mas não está presente no julgamento, não foi acusado, nem sequer foi constituído o arguido.
Já no caso dos actos terroristas, os grandes ausentes são dois dirigentes da UNITA: o próprio presidente Alberto Costa Júnior e o presidente do grupo parlamentar Liberty Chiyaka. Os acusados dizem que foram incentivados pelos dois dirigentes da UNITA. Portanto, tudo isto diz muito bem do estado da justiça angolana.
Manuel Vicente não convém que esteja no julgamento, por razões que razão desconhece, apesar de estar envolvido em muitos negócios, o vice-presidente não tem uma acusação em Angola, mas tem um processo enviado por Portugal que está na gaveta.
Já os dirigentes da UNITA, como não há acusação contra eles, não há nenhuma razão, puseram na boca dos acusados acusações contra os dirigentes da UNITA.
Isto diz bem do estado da justiça angolana, bastante selectiva, aparentemente servindo os interesses do Presidente da República, do seu governo e do seu partido.
É assim que vai a justiça angolana, pelo menos aparentemente.
Vamos ver com o decorrer do julgamento o que é que vai acontecer.