Menos de um mês depois de São Tomé e Príncipe ter visto todo o seu território classificado como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, eis que, para surpresa e preocupação de todos, fomos confrontados com o anúncio do fim das operações, investimentos e projetos turísticos daquele que é, de longe, um dos pioneiros e principais grupos investidores no setor do turismo, particularmente no ecoturismo: o Grupo HBD, liderado pelo empresário sul-africano Mark Shuttleworth.
Na carta endereçada ao Presidente do Governo Regional do Príncipe, onde, entre outros fundamentos e considerações, o investidor comunica a intenção de encerrar graciosamente os investimentos do Grupo HBD nas áreas do ecoturismo e da agricultura na Ilha do Príncipe, creio que merece especial atenção e reflexão o facto de este ser bastante taxativo ao afirmar ter-se perdido “o sentido, o propósito e a visão comuns no Príncipe”. Trata-se, na minha opinião, da manifestação de um sentimento profundamente preocupante por parte de alguém que sempre acreditou nas potencialidades humanas e turísticas da ilha e que, justamente por isso, em consonância com a visão e o propósito partilhados com os líderes regionais, possibilitou que diversas transformações positivas fossem concretizadas no plano social e económico nessa parcela do nosso território nacional.
Independentemente de outras razões, menos conhecidas, que possam estar por detrás da decisão agora anunciada pelo investidor, é certo que, como em qualquer ação que pretendamos levar a cabo nos mais variados setores da nossa vida coletiva, se não existir um propósito comum — e se esse propósito não for preservado, respeitado e inclusivo, tendo sempre como objetivo principal o bem-estar da comunidade, dificilmente será possível assegurar a continuidade dos processos de transformação social que desejamos alcançar.
A Ilha do Príncipe, assim como a de São Tomé, necessita de atrair e fixar cada vez mais investimentos privados para os mais variados setores da nossa economia. Contudo, é sobretudo no setor do turismo sustentável e responsável que as nossas ilhas poderão conhecer um crescimento socioeconómico capaz de transformar positivamente a vida de muitas pessoas.
Por isso, hoje, mais do que nunca, em nome do interesse público e da manutenção digna dos postos de trabalho, exige-se dos principais atores e decisores políticos do país o dever de, com responsabilidade, diálogo, transparência e equilíbrio negocial, fazer tudo ao seu alcance para que se encontre um ponto comum de entendimento e uma visão partilhada que permita salvaguardar os interesses de todas as partes, tendo sempre as pessoas no centro das decisões.