Angola vive um surto de cólera. Este surto está particularmente concentrado em Luanda e em duas províncias vizinhas, o Bengo e o Icolo e Bengo. Até ao momento foram detectados 383 casos de cólera, mas destes 383 apenas 76 são confirmados, porque os testes são relativamente caros para Angola, não se testa tudo e supõe-se que os casos com sintomas semelhantes estão relacionados com a cólera.
Registaram-se 22 óbitos, uma taxa de mortalidade de 5,74% se considerarmos os 383 casos. Destas mortes, mais de metade ou cerca de metade são mortes de criança. Relativamente às mortes, o que acontece é que normalmente a cólera, quando existe, tem uma taxa de letalidade relativamente baixa, fala-se até em 1%.
Em Angola é muito mais elevada, é 5 vezes mais elevada. E é 5 vezes mais elevada porquê? Porque as pessoas não têm centros de saúde onde se dirigir para tratar a cólera quando ela se começa a manifestar e daí é elevada a taxa de mortalidade. E enquanto não temos centros de saúde próximos das populações, o governo anda a construir hospitais de centenas de milhões de euros.
Este surto de cólera devia envergonhar Angola e os angolanos, e em especial quem nos governa. Como se sabe, a cólera é resultado do consumo de alimentos degradados, de água contaminada, de falta de higiene. Portanto, é a doença dos pobres, é a doença da miséria.
E num país como Angola, rico em recursos naturais e com as riquezas, em termos de recursos naturais que temos, é verdadeiramente uma vergonha que ainda estejamos nesta situação, que não haja higiene, não haja saneamento, não haja água potável. Só 40% dos angolanos têm acesso à água potável. E enquanto isto acontece, vão sendo conhecidas algumas das prioridades do governo.
Por exemplo, retomar a construção da sede do Ministério das Finanças, que vai custar mais de 80 milhões de euros. Por exemplo, devido a problemas que existem na sede do Ministério das Relações Exteriores, o Ministério vai mudar para um outro edifício, onde será paga uma renda de cerca de 200 mil euros mensais. Portanto, é este problema, estas prioridades perfeitamente desajustadas que estão na origem também deste surto de cólera.
Portanto, estamos, repito, em presença de uma vergonha nacional para Angola e para os angolanos.