No contexto sociopolítico são-tomense, o mês de novembro de 2024 revelou-se pródigo em registos – infelizmente bastante negativos – de um clima crescente de tensão e de alguma dissonância em termos de visão estratégica para o país.
Prova disso, ficará para memoria futura, os recentes episódios de alguma trapalhada, falhas grosseiras de comunicação e, eventualmente, a não observância dos mais elementares valores que deveriam nortear a coabitação entre os mais altos dignatários do Estado são-tomense: o respeito institucional e diálogo permanente e construtivo, mesmo quando não se está 100% de acordo em relação a uma determinada questão de interesse nacional.
Coincidência ou não, no mês em que se assinala os 50 anos da assinatura do Acordo de Argel – marco histórico que cimentou e conduziu o processo de independência de Cabo Verdade e da Guiné-Bissau –, que influenciou e abriu as portas à independência também de São Tomé e Príncipe, o nosso país vê-se diante de um impasse que já dura há pelos menos desde 1985.
São 50 anos de sucessivos Governos, de diferentes cores partidárias, sem que o desenvolvimento sócio económico nunca tenha saído do papel e dos discursos políticos, particularmente os discursos políticos proferidos em períodos eleitorais. Como consequência, o nosso país foi incapaz de se reinventar, se posicionar e instituir as próprias fontes de produção de riqueza interna, permanecendo por isso refém dos tradicionais apoios, ajudas e empréstimos dos parceiros externos de desenvolvimento.
Ajuntando-se ao desaire da nossa nação, persiste a falta de clareza, compromisso e definição de objetivos concretos que convoquem todos são-tomenses para uma única causa: trabalharmos em conjunto de modo a construirmos um país melhor para os nossos filhos e para as próximas gerações.
Factualmente, a polémica em torno da atualização das novas taxas aeroportuárias e a consequente troca de acusações e disputas de narrativas entre o chefe de Estado e de Governo revelam a necessidade urgente de mais clareza e diálogo institucional entre os líderes da nação.
Os problemas são vários e já foram muito bem identificados pelas principais lideranças políticas do país. Mas, infelizmente, tem faltado compromisso e trabalho de equipa. Falta-nos o sentimento de unidade e partilha do sentimento de que estamos juntos no propósito de desenvolver STP. Sem essa partilha de visão e propósito, será extremamente difícil mobilizar as pessoas para uma causa comum: tornar STP num país próspero!
Fruto da conjugação de vários fatores e de interesses, pouco republicanos, inerentes à condição humana dos são-tomenses, fez com que hoje estejamos a viver uma crise sem precedentes nos valores que norteiam o Direito e que asseguram o funcionamento de uma sociedade democrática. Tal situação, por si só, deveria convocar os titulares dos órgãos da soberania da nossa República para um diálogo mais frequente e eficaz, em nome do interesse público.
É urgente firmar um pacto que permita que, de uma vez por todas, se possa renovar a confiança e a esperança dos são-tomenses no país e na política.