Na semana passada, num jogo disputado em Maputo, a equipa masculina de futebol de Moçambique venceu a sua congénere da Guiné-Bissau por duas bolas a uma. Foi um bom jogo, sofrido, e que coloca Moçambique na liderança do grupo I, nesta etapa de qualificação para a taça das nações africanas, a ter lugar em Marrocos, no inicio de 2026.
A equipa dos mambas tem vindo a ser orientada por Chiquinho Conde, um treinador que tem trazido resultados importantes ao futebol nacional. Desde logo, uma equipa a funcionar, com jogadores oriundos de vários pontos do país. Uma verdadeira seleção nacional, que poderá ser uma inspiração para o nosso país, quando se fala da moçambicanidade e da visão nacional.
Se tivéssemos treinadores do projeto de Moçambique, eu esperava que se dedicassem, entre outros temas importantes, a avançar com propostas bem delineadas sobre como enfrentar os eventos climáticos extremos que nos afligem com crescente frequência. Num relatório recente da Organização mundial de meteorologia aponta-se que o continente africano é responsável por menos de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa. Mas é a região do mundo mais vulnerável a eventos climáticos extremos, incluindo secas, inundações e ondas de calor.
Moçambique tem dois importantes projetos em curso, que merecem maior atenção, pela importância de que se revestem no adiar do fim do mundo: a proteção da floresta de miombo e de mangais costeiros. Num outro momento de opinião já falei da importância da floresta de miombo.
Em Moçambique esta floresta estende-se para norte do rio Limpopo, correspondendo a cerca de dois terços da área de floresta natural no nosso país. E relembro apenas que a floresta de miombo – tal como outras florestas – absorve grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera durante a fotossíntese. Armazenam o carbono nas árvores, nos arbustos e também no solo, o que as torna uma parte importante do ciclo do carbono em África e do sistema climático global.
Proteger esta floresta é fundamental para suster as dramáticas alterações climáticas. Ou seja, à medida que avança a desmatação destas florestas, maiores as quantidades de carbono emitidas para a atmosfera, colocando em risco a vida humana.
Já no que refere às florestas de mangais em África é de referir que cerca de 12% se encontram em Moçambique, um recurso que importa preservar, pois a floresta de mangal está sob ameaça face ao crescente turismo costeiro, a agricultura excessiva, a produção de sal e a desflorestação.
Outros dos perigos para os mangais em Moçambique estão associados à produção de sal e ao desenvolver da aquacultura. Ou seja, o nosso desenvolvimento tem de ser pensado de forma sustentada, para que estas florestas, responsáveis por reter grandes quantidades de dióxido de carbono, continuem a garantir um ar respirável no nosso país e no nosso planeta.
A título de exemplo é de referir que, em média, um hectare de floresta de mangal pode reter 10 toneladas de dióxido de carbono por ano. Mas os mangais realizam muitas mais funções. São um viveiro privilegiado para várias espécies de peixes e crustáceos. E nunca devemos esquecer que os mangais combatem a erosão e melhoram a qualidade da água, retendo os sedimentos e abrandando o escoamento da água das chuvas para o oceano Índico.
Precisamos mesmo de um treinador que nos ensine a trabalhar na preservação do nosso habitat com a mesma qualidade com que Chiqinho Conde tem vindo a construir a nossa equipa nacional, os mambas. E que o apoio e a proteção aos mambas se estenda às florestas habitat das mambas.