TEATRO
MIA COUTO E JOSÉ EDUARDO AGUALUSA
17 DE JULHO . 21H30
Baltazar Fortuna está zangado.
Com os homens, com a vida, com Deus e consigo mesmo.
Fortuna, só lhe coube a do nome.
E, sobretudo, está zangado com as mulheres. Com as três mulheres da sua vida.
Por isso volta a Xigovia – a pequena vila no sul de Moçambique, onde elas vivem – com um objetivo claro: matar.
Sim, matar.
Matar o azar, varrer a má-fortuna e emendar a vida que escolheu viver, mas já não deseja.
No processo, há que matar as mulheres também. São elas as culpadas, disso não duvida.
Ele, que sempre teve medo das palavras, quer redimir-se nos atos.
O único obstáculo? Elas não querem colaborar, não lhes apetece morrer.
Têm ideias próprias.
Esse, sabe ele bem, é o problema do Mundo: andarem a meter ideias na cabeça das mulheres.
Logo nelas, diz Fortuna, que “Desde Eva que andam em contramão”.
A morte vai andar por Xigovia, isso é certo.
Mia Couto e José Eduardo Agualusa refletem neste conto – adaptado ao palco com dramaturgia do próprio Mia Couto – sobre o conflito entre um Moçambique periurbano, que hesita entre um lastro de tradições e práticas ancestrais cristalizadas nas mentalidades masculinas dominantes; e um novo país, de demografia galopante, prenhe de jovens que, a cada dia, se revêm menos nas estruturas culturais herdadas e nas práticas sociais que elas impõem.
O conflito entre Baltazar Fortuna e as suas mulheres – Mariana Chubichuba, Judite Malimali e Ermelinda Feitinha – leva, inevitavelmente, à morte de um desequilíbrio social onde o lugar que cabe às mulheres e o dos homens é vigorosamente questionado e resolvido em cada opção, em cada atitude, em cada gesto do presente.