Primeira exposição individual da artista plástica brasileira Sónia Gomes em Portugal – De 27 de Maio a 16 de Agosto – No Kunstalle Lissabon, junto a Santa Apolónia
A Kunsthalle Lissabon tem o prazer de apresentar Torcer, amarrar e pender, a primeira exposição individual em Portugal de Sonia Gomes, uma das vozes mais relevantes da arte contemporânea
brasileira. Através de uma prática baseada em têxteis, Gomes resgata materiais negligenciados, transformando-os em recipientes de memória, resistência e cuidado. A sua obra é um gesto
radical de reconstrução de vidas, vozes, histórias e tradições através do tecido.
O título da exposição, Torcer, amarrar e pender, condensa os gestos que atravessam a obra de Gomes, tanto em termos materiais quanto simbólicos. São ações que remetem ao modo como a
artista transforma tecidos em esculturas orgânicas, mas também ao entrelaçamento de histórias, afetos e redes de apoio que sustentam o seu trabalho. Em algumas obras, cordas torcidas
sustentam volumes suspensos que desafiam a gravidade, enquanto tecidos amarrados em tensão criam formas que oscilam entre abrigo e exposição. Esses gestos, alimentados por doações de
roupas e outros têxteis por pessoas de diferentes origens, tornam-se parte de uma narrativa maior, tecida coletivamente. Gomes constrói as suas peças lentamente, permitindo que surjam de um diálogo tátil entre o material e a memória. A artista não segue um plano fixo, deixando-se antes conduzir pela ressonância emocional das texturas, cores e fragmentos. Cada pedaço de tecido, seja um pedaço de renda, uma camisa usada ou um forro descartado, carrega consigo uma história. Usados, oferecidos, esquecidos ou guardados, esses fragmentos chegam ao seu ateliê carregados da
energia de vidas passadas. Gomes responde por meio do toque, os seus gestos são simultaneamente intuitivos e deliberados, transformando a costura numa linguagem que honra o trabalho, a sobrevivência e as redes invisíveis que nos sustentam. Torcer, amarrar e pender reúne uma seleção de trabalhos recentes da artista, oferecendo uma oportunidade única de entrar em contato com a abordagem expansiva de Gomes à forma e à narrativa e abrindo uma janela para o seu processo de trabalho, no qual o objeto final é inseparável dos gestos, experiências e comunidades que o compõem.
As obras apresentadas desdobram-se como corpos em movimento, equilibradas, mas precárias; suaves, mas resilientes. Elas ecoam os ritmos da sua terra natal, Caetanópolis, uma pequena cidade têxtil em Minas Gerais, no sudeste do Brasil. Para Gomes, o tecido não é apenas um meio, mas uma forma de ver e de se relacionar com o mundo. A sua prática está enraizada na criação
de comunidade e no reconhecimento do trabalho coletivo envolvido em cada peça. Esse compromisso manifesta-se de forma evidente nas obras desenvolvidas em colaboração com
o coletivo Ocupa e Borda, grupo formado por bordadeiras e bordadeiros da Ocupação 9 de Julho, que propõem autorias compartilhadas e modos de fazer feministas. A Ocupação 9 de Julho é uma
iniciativa do Movimento Sem Teto do Centro, liderado por mulheres e composto por trabalhadoras e trabalhadores de baixa renda que ocupam prédios abandonados no centro de São Paulo,
lutando pelo direito constitucional à moradia e por uma transformação social que democratize o acesso à cidade.
As obras colaborativas criadas com o coletivo partem de bordados produzidos por seus integrantes e evocam rios subterrâneos como o Saracura, que corre oculto sob a avenida Paulista. São o resultado de um encontro sensível entre memória, corpo e criação, corporificado em esculturas e bordados que transitam entre o íntimo e o coletivo, entre a ancestralidade e a invenção.
A Kunsthalle Lissabon é apoiada pela República Portuguesa / DGArtes, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Vasco Collection. A exposição Torcer, amarrar e pender conta com o generoso apoio
da Mendes Wood DM.
Sobre Sonia Gomes
Sonia Gomes (n. 1948, Caetanópolis, Brasil) vive e trabalha em São Paulo. Iniciou sua trajetória académica com a graduação em Direito e trabalhou como advogada antes de começar a sua
carreira nas artes plásticas nos anos 1990, quando ingressou na Escola Guignard da Universidade do Estado de Minas Gerais. Ao longo da sua carreira, Gomes tem-se destacado com
exposições individuais e colecionado reconhecimento internacional.
Entre as suas exposições individuais destacam-se: Barroco, mesmo, MAC Bahia e Museu da Inconfidência, Ouro Preto (2025); …vivem no compasso do sol, Mendes Wood DM, Paris (2024);
Sonia Gomes: sinfonia das cores, Octógono da Pinacoteca de São Paulo, São Paulo (2023); O mais profundo é a pele (Skin is the deepest part), Pace Gallery, Nova Iorque (2022); Lágrima, Mendes Wood DM, São Paulo (2021); When the sun rises in blue, Blum & Poe, Los Angeles (2021); I Rise – I’m a Black Ocean, leaping and Wide, Museum Frieder Burda, Baden-Baden (2019); Sonia Gomes, Mendes Wood DM, Bruxelas (2019); Sonia Gomes & Marga Ledora, Mendes Wood DM, São Paulo (2018); Ainda me levanto, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) e Casa de Vidro, São Paulo (2018); A vida renasce, sempre, Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), Niterói (2018); Linhas em tramas, Mendes Wood DM, São Paulo (2016); Nascer Uma Vez Após a Outra, Mendes Wood DM, São Paulo (2014); Stitch In Time, Mendes Wood DM, São Paulo (2012)