Depois de três meses de protestos que provocaram mais de 300 mortos e sob uma aparente normalidade, Moçambique espera hoje ouvir Venâncio Mondlane, o candidato que as autoridades eleitorais declararam derrotado, apresentar as medidas para os primeiros 100 dias de governo. O diretor do fórum que monitoriza as deliberações da ONU para o país afirma que a normalidade sentida nas ruas é uma falácia. Entrevistado pelo jornalista Nuno Amaral, enviado da Antena 1 a Moçambique, Sousa Chele declarou que o partido que apoia o presidente oficial, Daniel Chapo, está a desaparecer.
O país vive um momento histórico.
“É preciso sublinhar isso, Moçambique está numa grave crise política sem precedentes”.
Sousa Chele é o diretor-executivo do Fórum de Monitoria do Mecanismo de Revisão Periódica Universal dos Direitos Humanos da ONU em Moçambique.
Olha de soslaio para a aparente normalidade que o país vive depois da tomada de posse de Daniel Chapo.
“Tenho muitas dúvidas que a normalidade volte, tanto mais que Moçambique não será o mesmo. A tomada de posse do Presidente Chapo, proclamado pela entidade competente, designadamente o Conselho Constitucional, foi a maior vergonha no meu tempo de vida”.
Explica porquê.
“Existe um presidente cujos indicadores dão-nos conta de que efetivamente foi eleito pelo povo, que é Venâncio Mondlane, porém existe um candidato que foi proclamado pelas autoridades legítimas”.
Ou seja, Daniel Chapo, da Frelimo, partido que governa Moçambique desde a independência há 50 anos.
“Já há mudanças políticas em Moçambique, só não vê quem não quer ver. O partido Frelimo resume-se à sua sede na Sommerschield, do resto já não existe, foi queimado”.
E por isso Sousa Chele vê um país a andar para trás.
“Com Chapo estaremos estagnados, sem avanços e regrediremos”.
Visão diferente tem em relação ao candidato considerado derrotado pelo Conselho Constitucional.
“Com o Venâncio Mondlane seria um novo renascer, uma espécie de nova independência de Moçambique”.
Esta sexta-feira, Venâncio Mondlane, o candidato derrotado, apresenta as medidas para os primeiros 100 dias de governação.