É um momento ímpar, diz o professor e analista moçambicano Alberto Ferreira, sobre a auscultação pública nacional e, na diáspora, sobre o diálogo político para tentar pacificar o país.
Prevê, entre outras matérias, um novo modelo eleitoral, também a revisão da Constituição da República.
Alberto Ferreira diz que, de facto, pode ser importante e recorda que o presidente não pode ser um partido.
“Neste momento, creio que seja o único momento ímpar, desde 1975, desde que começou a haver o sistema multipartidário, de se mudar a história de Moçambique. Por isso, seria importante que todos os países participassem efetivamente. Eu tive a ocasião de falar com o embaixador português e manifestei o meu entusiasmo. Não será entusiasmo depois das independências, depois que as pessoas ficaram tristes, não. Acredito que este entusiasmo vai construir um Moçambique diferente, porque a própria Frelimo chegou à conclusão também que o país não pode ir assim. A própria Frelimo chegou à conclusão que o próprio presidente também tem muitos poderes exagerados. Eu estava numa das reuniões onde estava também o presidente da República, o presidente disse que esta ideia é boa, mas deixa-me perguntar ao partido lá no comitê político, que parecia um presidente, um chefe do executivo, não ter um governo nas suas mãos para dirigir, que é estar debaixo de um partido.
Alberto Ferreira realça, no entanto, que esta partidarização do sistema, que se vive em Moçambique não é só culpa da Frelimo, é em parte também responsabilidade da RENAMO.
“O presidente Chissano propôs ao presidente Guebuza e à RENAMO em geral que houvesse esta separação de poderes: que o primeiro-ministro fosse ministro real-chefe do executivo, a RENAMO recusou redondamente. A RENAMO escolheu pela partidarização do Estado. Partidarizar o Estado significa enfiar, introduzir, fazer parte que os partidos estejam em todos os sítios: estar na CNE, estar nos tribunais, estar na defesa, estar, quer dizer, enganaram o Afonso Dhlakama [então presidente da RENAMO] de que enquanto ele ganhasse eleições, o tal presidente da república será, portanto, desprovido de poderes, não vai ter poderes suficientes para exercê-los de tal forma que não pode pôr o país em ordem”.
Alberto Ferreira, analista político e professor universitário moçambicano, fala sobre o diálogo político que começa esta tarde e pretende envolver vários setores da sociedade do país.
Paula Borges, Jornalista RDP África