A Semana em Angola fica marcada por mais uma entrevista do Presidente João Lourenço, desta vez à CNN Portugal. Há menos de um mês, o Presidente João Lourenço concedeu uma entrevista à TPA.
E porque é que João Lourenço, tão parco em dar entrevistas, dá duas entrevistas praticamente seguidas? Eu acho que tem a ver com a sua própria sucessão.
Embora esta última entrevista à CNN Portugal seja, de alguma maneira, uma entrevista da praxe, o Presidente vai visitar Portugal e, normalmente, nas vésperas das visitas, os Presidentes dão uma entrevista aos órgãos de comunicação social do país de destino.
Mas a primeira entrevista à TPA teve, claramente, um objetivo que foi dar recados aos candidatos à sucessão do próprio João Lourenço. E, na primeira entrevista, tinha um destinatário específico, que era Higino Carneiro, um general que foi quase tudo no MPLA: foi ministro, foi governador, foi secretário provincial de várias províncias e, portanto, é um candidato de peso.
Existem mais três candidatos, mas, com todo o respeito que eu tenho por esses candidatos, são candidatos com um peso muito menor do que Higino Carneiro e, sobretudo, não têm uma coisa que Higino Carneiro tem uma carreira enorme dentro do partido e também não têm dinheiro.
Higino Carneiro anunciou a intenção de se candidatar à presidência do MPLA e comunicou isso a João Lourenço. Poucos dias depois, João Lourenço veio dar a entrevista à TPA, onde diz que Higino Carneiro se apresenta como um predestinado e que não há predestinados e vem também dizer que nenhum dos candidatos, em particular Higino Carneiro, tinha a sua bênção.
E, portanto, ficamos a perceber aí que, para ser candidato ao MPLA, tinha que se ter a bênção de João Lourenço.
Isso ficou agora confirmado com esta entrevista à CNN Portugal, em que João Lourenço diz, basicamente, e relativamente à sua própria sucessão, que pensa na sucessão todos os dias, mas que pensa calado e que não pode deixar ou entregar o MPLA e o país a um qualquer.
E vai mais longe, define mesmo o perfil do futuro presidente do MPLA em Angola, que deve ser um “jovem” e “preparado”.
E quem é que vai escolher este “jovem” e “preparado”? O próprio João Lourenço. João Lourenço, enfim, concede que vai ajudar a escolher, que não vai decidir sozinho, mas depois acaba por dizer que ele é a pessoa mais indicada para escolher o seu próprio sucessor.
Portanto, quem pensava em eleições, em democracia, dentro do MPLA, para a escolha do futuro presidente, não vale a pena.
Sobre os predestinados, o presidente disse que se algum candidato se achar predestinados, não há razões para haver eleições. Depois da entrevista também não há razões para haver eleições porque quem vai escolher o próprio sucessor de João Lourenço é o próprio João Lourenço. Enfim, assim vai a política em Angola.