A juventude tem aparecido como um importante factor explicativo das tensões socio-políticas do continente africano. Moçambique não é excepção. Nos motins urbanos de 2008 e de 2010, que afectaram Maputo e outras cidades do país, ou nas manifestações pós-eleitorais de 2024, os jovens foram considerados os principais protagonistas das revoltas. Da mesma forma, o grupo rebelde que opera no Norte de Cabo Delgado é localmente conhecido por alshababs, termo de origem árabe que significa jovens. As tensões são frequentemente explicadas pelo facto de a maioria da população ser jovem e nao ter acesso a emprego. É neste cenário que surge o conceito de whaithood ou idade da espera, que surgiu para explcar a situação social da juventude: os jovens já são adultos em termos etários, mas continuam â espera de ser adultos, naquilo que significa realmente ser adulto: dispor de um emprego e de uma fonte de rendimento e, por essa via, ter capacidade de acesso ao consumo e reprodução social.
Não há dúvida que a população moçambicana é extremamente jovem. Metade dos moçambicanos têm 16 ou menos anos. Para tal concorre uma taxa de fecundidade bastante elevada, que chega a atingir os 6,8 filhos por mulher no Niassa ou 6,2 em Cabo Delgado, exercendo uma elevadíssima pressão sobre a educação e o emprego.
Mas estas análise concentram-se em demasia nas variáveis demográficas, entendendo a demografia fosse o cerne do problema, ignorando as dinâmicas da economia política da região, que despoletam elevadas taxas de fecundidade. A demografia é apenas o sintoma de aspectos mais abrangentes. A maioria da população continua fortemente dependente da agricultura, sem recurso a tecnologias de produção e dependentes de sistemas de trabalho intensivo. A capacidade do Estado de prover assistência social à população é limitada, pelo que deter muitos filhos constitui a estratégia natural das famílias para garantir não só a mão-de-obra para os trabalhos agrícolas, mas também uma esperança para providência no futuro. Uma vez nos centros urbanos, mais integradas nos mercados formais e informais de emprego, a taxa de fecundidade desce consideravelmente, atingindo os 2,1 filhos por mulher em Maputo cidade. Grande parte do excedente rural concentra-se em zonas peri-urbanas, em migrações circulares, gerando elevada pressão o emprego, com facturas políticas, visíveis durante os escrutínios eleitorais.
A solução para este problema não passará apenas por medidas paliativas de apoio ao emprego juvenil urbano, mas na transformação estrutural no campo, proporcionando condições para o aumento da produção e da produtividade, para a modernização do mundo rural e consequente transição demográfica. Trata-se de reformas que só terão impacto no médio prazo, num horizonte de duas ou três gerações. Entretanto, a população jovem continuará a crescer, mantendo a pressão política nos momentos eleitorais.