Após as declarações chocantes de André Ventura, na sequência do assassinato do Cabo-verdiano Odair Moniz pela polícia Portuguesa,
Manuela Brito, embaixatriz de Cabo Verde em Portugal, pediu ao governo através da sua pagina do Facebook que declarasse o Chega, partido da extrema direita portuguesa liderado por Ventura, persona non grata.
As noticias identificaram Manuela Brito como embaixatriz; mas as motivações por trás do seu posicionamento e da sua publicitação estão enraizadas na candidatura de Brito á presidência da assembleia municipal da Praia, pelo Movimento para a Democracia
O assassinato de Odair Moniz chocou o país. Para Manuela Brito, um posicionamento público contra o Chega é, sem dúvida, politicamente rentável – mas é ideologicamente incoerente.
Em 2021, o público Cabo-verdiano teve conhecimento de relações suspeitas entre o governo de Cabo Verde e um conjunto de personalidades ligadas ao Chega.
O governo pretendia nomear o empresário luso-americano César de Paço, e a sua mulher Deanna, cônsules honorários de Cabo Verde, respectivamente na Flórida e em New Jersey, nos Estados Unidos.
Foi Carlos Veiga, candidato presidencial em 2021 e então embaixador de Cabo Verde nos Estados Unidos – quem terá intermediado o acordo.
Na época, o Chega já tinha representação parlamentar, e a sua ideologia populista e racista era sobejamente conhecida. De Paço era um conhecido financiador do Chega, próximo de André Ventura. Mesmo assim, o MpD não teve qualquer compunção em ligar-se á organização.
Em 2021, quando o caso rebentou na imprensa nacional e internacional, a atitude da generalidade dos governantes e militantes do MpD foi negar qualquer má fé, minimizando a importância da matriz ideologia do Chega.
Mas hoje, a prioridade do MpD são as autárquicas; e as sensibilidades cabo-verdianas em torno do racismo português são profundas.
Hoje – três anos depois de conhecermos as transacções entre o MpD e o Chega – eis que é conveniente para as altas personalidades do partido pedir a cabeça dos seus anteriores aliados internacionais. E fazem-no com a mesma naturalidade com que os tinham defendido.
Em vésperas de eleições, com a opinião pública revoltada contra o Chega, o seu bota-abaixo constitui uma oportunidade para conquistar o favor dos eleitores; um prato cheio para os nossos oportunistas.