Sete meses após as mais polémicas eleições de sempre, Venâncio Mondlane e Daniel Chapo realizaram o seu segundo encontro, renascendo as espectativas para um diálogo apaziguador. No final do encontro, e com o objectivo de reconstruir a sua base de apoio e de reorganizar a sua estrutura política, Venâncio Mondlane focou a necessidade de amnistia dos detidos durante as manifestações, de apoio do Estado aos feridos e de indemnização das famílias dos jovens assassinados pela polícia.
Chapo, por sua vez, adopta uma atitude mais vaga. Insiste na necessidade de diálogo e de reconciliação entre irmãos e explora, perante as câmaras de televisão, a sua devoção cristã.
Frequentemente aparece a rezar, faz questão de marcar presença no funeral do Papa e evoca, de forma vaga, princípios cristãos de diálogo. Mas ignora que, de acordo com esses mesmos princípios Cristãos, a verdade liberta. Ignora que é a partir da verdade, que se consegue a reconciliação, que a reconciliação implica reparação dos danos causados.
Enquanto faz apelos vagos à paz, tem consciência que as instituições do Estado estão controladas a seu favor: As contas bancárias de Venâncio Mondlane permanecem congeladas, parte da sua estrutura directiva continua detida e processos avançam na PGR contra si, que se mantém apática na investigação da fraude eleitoral.
O partido de Venâncio Mondlane aguarda há quase dois meses para ser legalizado pelo Ministério da Justiça. Não obstante constituir o líder dos protestos pós-eleitorais, a comissão técnica para diálogo pós-eleitoral não inclui Mondlane nem qualquer seu representante. Qualquer tentativa de manifestação política na rua, que nao seja organzidada pelo partido Frelimo, continua a ser reprimida com gás lacrimongénio. Enquanto Chapo fala em Paz à luz do dia, durante a noite indivíduos raptam e assassinam, de forma sinistra, os jovens que lideraram os protestos.
A Frelimo mantém-se fiel ao seu slogan, “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se” e a organização da vitória inicia com a desorganização dos adversários. Consciente da sua impopularidade, sem capacidade para realizar reformas estruturantes, a Frelimo está consciente que será um risco voltar a enfrentar um candidato tão confrontativo e popular entre a juventude.
A estratégia passa pela sua marginalização, empurrando-o para a via violenta, de forma a conseguir o argumento necessário para fundamentar a respectiva ilegalização e detenção.
Esta estratégia poderia ser viável se o Estado conseguisse promover uma inclusão económica da juventude e construir instituições fortes e eficientes. Mas a pobreza agrava-se e os serviços públicos estão cada vez mais fragilizados.
Os funcionários públicos, incluindo polícias e militares, estão entre os mais desmotivados e descontentes. Uma guerra prolonga-se em Cabo Delgado há mais de 7 anos, os desmobilizados de guerra da Renamo não estão satisfeitos e uma juventude naparama continua com sede de mudança. Tal como em 1974, o regime parece muito forte. Mas é um gigante assente em pés de barro.